domingo, 6 de novembro de 2011

As armas que precisamos

Deixemo-nos de falinhas mansas, de julgar tudo e todos, de culpar este ou o próximo. Este tipo de atitude não adianta nem desmente e simplesmente prende-nos ao estado a que chegámos! Sejamos francos, directos, concisos, nem que seja por uma vez na vida... Afinal, vivemos num país velho, num continente velho e parece que nada conseguimos aprender. A corrupção nunca foi tão clara, tão tácita, tão aceite e conformista. Mas o mundo, se calhar também nunca foi tão fútil...

"Ah, santa hipocrisia! A hora chegou, não vê quem não quer. Este mundo está prestes a terminar, agarra-te a ele e com ele ficarás até ao fundo!"

Distribuimos educação como quem quer distribuir gelados, mas não ensinamos as crianças a pensar. Gerações e gerações inteiras de mentes castradas na infância gritam agora impotentes. Esquecemo-nos que o mais importante que podemos ensinar é precisamente o ensinar a pensar, aprender a aprender, criar, inventar, e não circunscrever a imaginação às artes, como se de algo secundário se tratasse. Agora o mundo está em crise e ninguém sabe o que fazer. Ensinaram que para prever o futuro deve-se olhar para trás, e quando nada no passado se assemelha àquilo que agora vivemos, os braços caiem inertes.

Ensinar a pensar, a criar, a aprender, a imaginar, extrapolar, visionar, enfim!

Então, em alturas de crise, ensina-se a poupar, a guardar, acumular o que poderá, eventualmente, vir a fazer falta. Esta não é a altura. Esta não é mais uma crise. Este momento não tem comparação.

As armas que precisamos estão dentro de nós, e tudo o mais é supérfulo!

sábado, 10 de setembro de 2011

O 1º dia de aulas

Chega Setembro e chega o cheiro a livros novos, a ansiedade a crescer, de pais e filhos no início de mais um ano escolar... Já repararam no estado de espírito de uma criança prestes a entrar na primeira classe? É intrigante testemunhar aquele entusiasmo contido da véspera, o nervosismo e a expectativa que caracterizam o encarar do desconhecido. Face ao desconhecido sim, pois ouviu falar na escola "a sério", no ter de estudar e fazer contas, testes e fichas de avaliação, ficar sentado na sala de aula, tudo conceitos estranhos a uma criança de seis anos. Parece que todos os discursos de apaziguamento rapidamente se evaporaram, de repente só se lembra da responsabilidade acrescida, do terror dos trabalhos de casa, do não saber o que significa ser crescido.

E como reagimos nós perante uma situação semelhante, a ansiedade antes de um salto no escuro? Será que conseguimos encarar os novos cenários que a vida nos propõe e às vezes até impõe, com o mesmo entusiasmo que pedimos a uma criança para ter no primeiro dia numa escola nova? Ou será que nos enchemos de dúvidas, negação e pessimismo, recusando tudo aquilo que nos está a ser ofertado com medo da mudança?

Sinceramente, duvido que haja altura na vida mais marcante e cheia de incerteza do que o primeiro dia de escola. Em que já não basta todo o nosso nervosismo, ainda temos o colega do lado a choramingar pela mãe, os pais a entrar e a sair da sala com mil recados para uma professora que consegue ficar ainda mais nervosa do que todos aqueles meninos juntos, perante uma sala cheia de vinte e muitas crianças que nunca viu e cerca de quarenta pais todos a quererem chamar a atenção para o seu mais que tudo, dando mil recados que ninguém se irá recordar... Garanto que a energia e a tensão produzida numa altura destas é tal que bem aproveitada daria para alimentar a electricidade da escola toda só naquela meia-horinha de zun-zun e burburinho...

Quem não tem uma qualquer recordação do seu primeiro dia de escola? Da primeira amizade que se julga ser eterna, das saudades de casa num mundo desconhecido, do aperto no estômago, da carteira, da professora, do recreio?!...

Oxalá consigamos encarar todos os revezes da vida com o mesmo entusiasmo com que um dia encarámos o primeiro dia de escola, com a mesma vontade, com o mesmo optimismo que nos incutiram na altura. Fomos capazes uma vez e voltaremos a ser quantas vezes forem necessárias. E pode ser que no final do dia também exclamemos, aliviados, adoro a escola nova!

sábado, 27 de agosto de 2011

Ode ao Sol!

É isso mesmo que queria fazer, como os antigos, fazer uma ode àquele que nos ilumina os dias, amadurece as colheitas, aquece as casas e o coração.
Sem pensar, sem registo de quaisquer ideias pré-concebidas, agradecer a quem nos aquece a alma, acaricia o coração.
É que às vezes padeço de um mal nunca visto, arrefeço por dentro, sinto-me feita de gelo e os meus gestos  gelam quem os toca. Não é por querer, tento evitar, mas quanto mais tento mais esfrio tudo o que me rodeia, até o mundo não ter mais côr.
Depois, eis que tudo muda, o sol surge no céu e, como por magia, tudo à minha volta vai ganhando côr, as flores despontam, os risos escondidos transformam-se em gargalhadas! E pouco a pouco, transforma-me a mim, pois como que derreto, lentamente... Todos os dias um bocadinho mais até atingir o meu centro.
E quando o meu coração volta a bater, longe do rígido que já foi, a esperança volta a nascer (!) e um sorriso, já esquecido, retorna-me aos lábios.

Um desabafo!

Muitas vezes escrevo sem saber o que esperar de volta. Escrevo não sei para quem, não sei para quê, escrevo porque tenho de escrever, porque a minha cabeça não faz sentido de tão sobrepovoada de pensamentos que está.
E é difícil quando somos nós que não fazemos sentido...
Comecei por deitar fora toda esta parafernália de pensamentos no blog... nunca pensei sobre o que isso diria sobre mim, nunca pensei em quem iria lê-lo... Continuo a não fazê-lo, afinal o meu objectivo não é pensar mensagem alguma, apenas arranjar espaço para me mexer, arejar a cabeça... convenci-me que enquanto os despejasse ali deixariam de me incomodar, qual sapatos que deixam de estar no meu caminho e foram arrumados na prateleira. Pois é... parece que não basta. Isto aqui, às vezes faz tanto barulho que mal me consigo ouvir! Será que tenho uma fonte inesgotável de disparates para dizer? Não seria possível construir um móvel (este blog servia perfeitamente) e arrumar as ideias, os pensamentos, as palavras, todas direitinhas, por ordem alfabética ou por cores, tanto faz...
Queria-os arrumados sim, que deixassem de andar por aí aos saltos, a gritar e dançar, que fico cansada e desorientada.
Mas sei o que os acalmou, sei o que me permitiu ter descanso, não pensar em coisa alguma que me tire o sono ou a paz, a tão requerida calma: o SOL! O bem que me faz o sol! Se calhar chama-os lá para o alto ou tosta-os bem tostadinhos, coitadinhos dos pensamentos, que de tão queimados deixam de me incomodar.
Sol a jorros! Com mar a acompanhar, receita certeira para os males dispersar! Que bom ter a cabeça vazia, sentir-me leve que nem uma nuvem, as prateleiras arrumadinhas, os ditos sossegados sem saírem do seu lugar. Que maravilhosa calma!...

Como te invejo! É que o verão já passou, gozei-o mas está-se a ir... Deixa-me prolongar o momento, só mais um pouco de praia, o suficiente para me manter sã durante o longo inverno que há-de vir.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Utopia

Fala-se tanto sobre o que está mal, o que deveria ser mudado, que gostaria de colocar aqui aquilo que penso que poderia ser diferente. Utopia ou não, pois tudo foi utópico em tempos, até alguém agarrar nessas ideias e conseguir levá-las à práctica. Todos os grandes feitos foram primeiro considerados impossíveis, irrealizáveis, disparatados e absurdos até. Ninguém nos impede de pensar, sonhar. Ninguém nos impede de partilhar essa cadeia de pensamentos. A voçês, nada vos impede de comentar.

Falo várias vezes no descontentamento imenso que sinto com a sociedade actual, com o regime de valores actualmente implementado, comento a minha profunda desilusão com a democracia e o capitalismo em que hoje vivemos.

Pois agora proponho algo diferente, proponho uma sociedade que assente em algo que não estamos habituados a falar, algo em que preferimos nem sequer pensar, por não termos resposta pronta. Podia começar como o próprio do John Lennon, “Imagine all the people...”

Então aqui vai, o que está errado no mundo em que vivemos? A sociedade actual promove o capitalismo, ou seja, a valorização da produtividade, a lei do consumismo. Somos actualmente valorizados pelo que somos capazes de produzir e consumir, pela nossa capacidade económica e financeira como unica régua de medição de sucesso, de progressão na sociedade ou como indivíduo. Como se isso fosse o nosso objectivo ultimo como seres humanos. Ora, se já está mais do que debatido que o dinheiro não é tudo, que o dinheiro não traz felicidade, aliás acaba por trazer à tona, muitas vezes, o pior que existe em cada um de nós (como a ganância, a discriminação, a inveja, a alteração de prioridades, a corrupção, etc), porquê insistir em salvar um sistema que está condenado à partida? Que mal faria partirmos do zero, começarmos de novo e definir, à partida, o objectivo que queremos alcançar, como indivíduos, como sociedade, como espécie, como o supremo objectivo da humanidade?
Enão vamos começar por aí. Qual pensam ser o nosso objectivo máximo, o que queremos para os nossos filhos, amigos e todos os que nos são queridos? Vamos deixar os preconceitos de lado e dizer o que nos vai no coração, este é um exercício que tem de ser feito de coração aberto, sem medos ou projecção de expectativas. O que desejaríamos, saúde, paz, dinheiro? Que sejam bem sucedidos profissionalmente, tirem um curso superior e tenham uma carreira ascendente? Que se casem, tenham filhos, sejam felizes? Se calhar é isso, que sejam felizes, parece que de uma forma geral resume tudo aquilo que pretendemos que aconteça a quem queremos bem. Mas isso é tão geral, não é? Como se pode medir isso, a fórmula da felicidade é igual para toda a gente? Claro que não. Há quem nasça para lutar, e quem viva para apaziguar, todos temos objectivos diferentes e são diferentes os impulsos que nos movem.

Podemos analisar a psique humana na tentativa de entendê-la. Podemos considerá-la como um campo de energia que possui um fluxo contínuo e inevitável de pensamentos e emoções. Porém, para atingir a felicidade teríamos de transformar esta, a maior fonte de entretenimento humano e enriquecê-la, torná-la estável e contínua. Tal como é defendido por A. Cury na obra “Análise da Inteligência de Cristo”, o enriquecimento deste fluxo vital contrasta “com a insatisfação existencial produzida pelo insucesso humano de conquistar uma fonte contínua de prazer.” Isto porque o homem pode ter tudo ao seu alcance, uma vida familiar estável, uma carreira profissional desejada, um estatuto social e económico invejável, e ser profundamente infeliz. Pois a fonte da felicidade não reside unicamente nos estímulos externos, mas sobretudo na resposta interna a esses estímulos, na evolução interna da sua personalidade, na satisfação que sente (ou não) em ser quem é. O que todos deveríamos almejar seria a capacidade de sentir prazer diante dos pequenos estímulos da vida diária, aprendermos a interiorizar-nos, enfim, conseguir viver uma vida tranquila na turbulência que é a escola da existência.

Será assim tão impossível, tão improvável, ou será que é possível conseguirmos construir uma sociedade que tenha como base de valores a felicidade humana?

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A crise, outra vez a crise.

Acho engraçado quando se diz que a crise que afectou Portugal, a Irlanda e a Grécia se pode espalhar a outros países como a Espanha ou a Itália, como se fosse não mais do que uma gripe que pode ser contagiosa a quem estiver mais perto.
Também não entendo a forma como esta Europa foi formada, começando pelo fim. Ou seja, dando primeiro uma uniformização de moeda única a quem não tem mais nada em comum - nem política fiscal, nem económica, nada. Aquilo que deveria ser uma consolidação de uniformização, de políticas, economia, direitos e governação, foi implementado antes de qualquer medida ter sido tomada neste sentido. Sem uma política global comum, sem nada, deram-nos uma moeda única e ficámos todos contentes, porque isso tornáva-nos mais fortes sem que que perdêssemos a individualidade de cada país, mesmo sem fronteiras, mantínhamos a sensação de patriotismo. Os ventos estavam de feição e as coisas não correram mal durante os primeiros tempos. Mas não sendo uma medida estruturada e apoiada por uma série de outras, mais cedo ou mais tarde estava condenado a sofrer os seus revés.

Quanto a esta suposta crise económica, parece que estamos todos cegos ou não nos querem deixar ver... Ora acompanhem-me lá neste raciocínio: o problema estrutural dos países em crise é o gastarem mais do que aquilo que produzem, e isso acontece porque há uma corrupção instalada, uma falta de ética estrutural a nível de quem governa. Esta falta de ética até pode ser apenas moderada, mas coloca os interesses pessoais acima dos interesses globais, tira isenção às decisões tomadas, reflete-se em dinheiros mal gastos, que se repercute em subidas de impostos pelos excessos cometidos, aumento de uma dívida que ninguém quer saber quem vai pagar, porque quando fôr altura de isso acontecer já nem sequer vão estar no poder.

Como é que se pode considerar que isto pode ser contagioso? Será uma guerra de vizinhos, se tu tens XPTO eu quero um XPTO+Y? E assim andamos numa escalada infantil de: "a minha dívida é maior do que a tua". Não será mesmo uma falta de ética na política em geral que nos trouxe ao que estamos hoje? Será que é mesmo no contrair mais dívida para se pagar a dívida antiga (ou apenas os juros) que está a solução? Pois estas são as únicas medidas que temos visto...

Será que é esta falta de ética intrínseca que é considerada como uma gripe que se pega? Ou será que é todo o sistema que está a precisar de uma reforma? Não só o sistema económico, pois isso é flagrante, mas a própria Europa e os regimes actuais, a tão defendida democracia, será mesmo o melhor que conseguimos fazer? Se por um lado limitamos o poder pelas eleições regulares, por outro desresponsabilizamos quem fica no poder por saber que esse poder é limitado. Isto está mais do que comprovado pela história recente, está longe de ser um sistema justo, apetecível.

E o que se faz perante este cenário de desgraça global? Nada, ou, de preferência, muito pouco. Soluções remediadas em vez de medidas activas, pois quem está no poder não quer arriscar o pescoço e quem não está sente-se muito à vontade para dar bitaites sem qualquer carácter construtivo. Tudo está estruturalmente desequilibrado. Se, para avançar com uma solução, uma decisão, é preciso que não sei quantos partidos políticos com agendas muito próprias e um eleitorado para agradar as aprove, ou pior ainda, se peça a opinião de toda uma população que não tem a capacidade ou informação necessária para analisar e decidir, então dificilmente avançaremos. As decisões têm de ser tomadas por quem sabe, a quem tenha sido decretada uma idoneidade e capacidade de visão indiscutíveis. Uma ou várias (poucas) pessoas com estas características que possam - não levar o país para a frente como tão comummente se diz - mas mudar tudo o que está intrinsecamente mal na sociedade que hoje vivemos.

Mudar estruturalmente a União Europeia, torná-la mais forte através de alinhamentos políticos, económicos, mas também humanitários. Uniformizando leis e medidas, centralizando as decisões, estabelecendo governos autónomos, porque somos países diferentes, com identidades diferentes, mas podemos estar todos unidos em prol de um bem comum. Não apenas uma moeda comum, mas com objectivos comuns, redesenhando o planeta, respeitando culturas, ajudando quem precisa, diminuindo a base do triângulo. Vamos acreditar que este é o futuro e permitir que assim aconteça.

domingo, 7 de agosto de 2011

Viver com criatividade

Como continuação ao post anterior, devo dizer que tenho um objectivo muito claro, ao dar toda esta importância à criatividade.
Existe uma crença estabelecida de que "criativos" são os artistas, consequentemente, os artistas não fazem dinheiro, logo, o ideal é esquecermos essa história, pois não têm qualquer futuro profissional assegurado.

Mas a criatividade deveria fazer parte de cada um de nós. A capacidade de questionar tudo e todos, tem tendência em se exacerbar com a adolescência e morrer com ela. Como se fosse quase um patrocínio desta fase da vida. Quem questiona o estabelecido já na idade adulta, é considerado de louco, como se a maioria da população fosse constituída por puros génios, cujas cabeças produzem conceitos inquestionáveis.
Todos sabemos que não é assim. Que muitas das regras/procedimentos estabelecidos na sociedade de hoje parecem ter sido concebidos por mentecaptos, mas ninguém as questiona. A sério, não estou a exagerar mesmo, alguém percebe porque é que alguém com um seguro de saúde privado, que descontou toda a vida para o sistema nacional de saúde, é preterido quando resolve aceder àquilo que sempre teve direito e nunca usufruiu? Alguém consegue entender porque é que a Segurança Social sabe sempre o que temos em dívida, mas nunca faz acertos se pagamos em excesso? Alguém entende porque é que  quem infringe a lei e vai preso, não tem de trabalhar como o comum dos mortais, mas pelo contrário, é-lhe oferecida comida e tecto a custo zero?
Estas são algumas pequenas coisas, das muitíssimas que a meu ver não fazem qualquer sentido, mas ao mesmo tempo ninguém questiona. Era tudo, muito mais do que isto, que merecia ser repensado, analisado e reestruturado. Mas para isso, precisamos criar/educar seres pensantes, que questionem o estabelecido, abram asas à imaginação e não sejam automaticamente castrados por quem os rodeia, dando-lhes a liberdade para tornarem esta numa sociedade mais justa, mais adequada às necessidades de quem a serve.

Educação e Criatividade

Hoje em dia fala-se muito em educação, no papel das escolas, nos resultados dos testes. Nos pais que não têm tempo, na média das notas, no acordo  ortográfico, no que fazer com as crianças nas férias, na inevitável compra de fichas para não se esquecerem de estudar. Damos (aliás, continuamos a dar) sobeja importância às notas que eles têm, como se fosse atestado da sua inteligência. Será que alguém se esqueceu o que se dá na escola?? Nós que somos pais, e também fomos filhos e alunos, não nos conseguimos lembrar do tipo de ensino que temos? Existem diferenças, claro; é mais difícil um aluno ser mandado para a rua ou ter uma falta disciplinar, nenhum professor usa régua de madeira a não ser para medir algo e os meninos não chumbam, mesmo que não tenham aprendido nada.
Mas a base educativa é relativamente semelhante, ensinam-se ideias feitas, conceitos decorados e nem as aulas das chamadas artes têm qualquer carácter criativo. Ensinam-nos para serem carneirinhos, não pensar, aceitar sem discutir - afinal, as coisas são assim porque são.
Mas será que alguém acredita que esta é a maneira certa de fazer as coisas? Porque não se deve ensinar as crianças e os jovens a pensarem por si próprios? Dá trabalho, dá mesmo muito trabalho. Se hoje é complicado convencermos alguém a ver a sua vida de outra perspectiva, a tentar dar a volta a uma situação de desemprego, a acreditar em si e no seu potencial (mesmo que não seja jovem, pois existe a crença instalada de que potencial é algo do domínio dos jovens), temos de aprender a relevar, a perceber que esta cultura de fatalismo está enraizada em nós, que não só aceitámos que assim fosse, como continuamos a fazer o mesmo com os nossos filhos.
Há que estimular a criatividade, o pensamento autónomo, dar armas de raciocínio e argumentação. É de pequenino que se torce o pepino, é de pequenino que se ensina a pensar. E isto torna o meu papel de mãe muito mais difícil, pois ensino-o a desafiar e argumentar, a questionar e dar valor às suas opiniões, mesmo que eu as considere absurdas, e, no meio de tudo isto, manter a autoridade. Mas também transforma esta relação de pais/filhos muito mais produtiva e enriquecedora, pois ponho-me no papel de aluno constantemente, e digno-me a aprender com ele, se calhar até mais do que ele aprende comigo.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Uma conversa.

Às vezes é tão difícil encontrar com quem conversar, conversas a sério, não sobre o tempo, a moda, a actualidade e a vida dos outros. O nosso dia-a-dia fica preenchido de pequenos nadas que nada significam, pois nada do que dizemos ou nos respondem acrescenta seja o que fôr à nossa existência. São conversas ocas, umas a seguir às outras, em que nos defendemos afincadamente com muros de futilidades, "longe de mim mostrar quem sou", o que diriam...
É este mundo, em que até assuntos tão corriqueiros como a política são abordados com pezinhos de lã, que me rodeia, e assim só me consigo sentir cada vez mais só, rodeada de uma e outra multidão. Porque fazemos isto a nós próprios? Porque não nos achamos realmente dignos de interesse? Porque é tão difícil furar a crosta de que nos cobrimos, tentar achar o verdadeiro "eu" do outro? Porque insistimos em não nos mostrar como verdadeiramente somos? Não somos todos iguais? Não procuramos todos o mesmo? A comunicação já é suficientemente complicada sem todas estas artimanhas. No meio de todas estas ilhas em que insistimos nos tornar, as novas tecnologias permitem uma nova abordagem a tudo isto... Permitem sim, fingir quem não somos, escudarmo-nos através de ferramentas que nos distanciam, mas permitem muito mais do que isso...

A mim, permite-me dizer o que me vai na alma, desabafar com o vazio. Dizer o que quero e o que sinto sem ser incómodo para ninguém... porque só lê quem quer, só acompanha quem tem vontade, só comenta quem quer participar nesta conversa, que não se pretende um discurso, mas sim um diálogo. Por isso, obrigada. Porque quem lê e volta, concerteza se revê, num ou noutro aspecto. E assim vamo-nos fazendo companhia...

O valor está na intensidade

"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis. "
Fernando Pessoa

Pegando neste comentário que aqui deixaram, e desde já agradeço a quem o fez.

É claro que, tal como o autor, toda esta afirmação é de uma poética e romantismo infindável. Porém, gostava de acrescentar algo que aqui não foi tocado.
Sem dúvida alguma que o que nos traz felicidade está longe de ser aquilo que temos ou somos capazes de comprar, embora a sociedade actual teime em insistir o contrário e somos constantemente bombardeados com esse tipo de informação que não faz sentido algum; ninguém fica realmente mais feliz por se tornar rico de repente, embora todos queiramos achar que sim.

O que nos traz a felicidade, o que ao fim do dia conta na balança quando equacionamos se somos felizes ou não, é sobretudo aquilo que sentimos. A condição económica poderá trazer, na melhor das hipóteses, contentamento, mas nunca alegria, a felicidade de sermos quem somos.
Este é um campo altamente subjectivo e do completo domínio das emoções. Podem estar duas pessoas a viver exactamente o mesmo momento e apenas uma sentir a total arrebatação e intensidade que o momento evoca. Nem sempre somos correspondidos, nem nas nossas expectativas (pois isso é óbvio), nem nos nossos sentimentos. Mas sabem que mais (?), do meu ponto de vista isso não invalida nada. Quem sentiu, sentiu. Pobre daquele que não conseguiu fazê-lo, que não conseguiu desligar-se daquilo que é, entregando-se por completo. Não é por não sermos correspondidos, uma e outra vez, que vamos deixar de investir. Não é por isso que os momentos deixaram de existir ou eclipsaram a sua intensidade. Nós estávamos lá, sentimos e isso tornou-nos mais felizes, passou a fazer parte da nossa história como pessoa. Nós continuamos cá, continuamos a levar com as ondas de frente, sem medos, mais rebolão menos rebolão, engolindo a dose que fôr necessária de água salgada, certos de que, ao final do dia, continuaremos vivos (com mais ou menos areia no fato de banho), fomos à luta. Sofremos, gozámos, entregámo-nos. Enfim, vivemos e permitimo-nos a chance de sermos felizes. Poderemos dizer o mesmo de quem opta por viver na bancada, olhando o mar de longe sem se atrever a experimentar a água que o chama? Eu vou à luta, e tu?

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O nosso caminho, não é só nosso!

Quantas vezes não tomamos opções só porque nos apetece? Ou só porque achamos que não faz mal? Afinal, a vida é minha, faço o que quero, certo? - errado. A vida é nossa sim, mas não é só nossa. Toda a gente, se pensar um bocadinho, sabe disso. Tu o que fazemos, ou optamos por não fazer, influencia activamente a vida de quem nos rodeia, independentemente da vida que levamos, das pessoas com quem nos damos, com quem nos cruzamos no dia-a-dia. Por mais eremitas que tentemos ser (e hoje em dia ninguém é verdadeiramente, pois o mundo não é suficientemente grande para isso), nunca, em ocasião alguma podemos ter a ousadia, o desplante, a irresponsabilidade de reclamar a nossa vida como apenas nossa. Tal afrontamento não passa de uma ilusão.

Sabemos disso todos nós, sabe muitíssimo bem quem tem filhos.
Podem ser mínimos, ou crescidos e já terem saído de casa. Podem ser chegados ou desligados, carinhosos e meiguinhos ou em plena crise de independência e adolescência. Os filhos são filhos, são parte de nós. Quando escolhemos, seja o que fôr, é uma escolha que irá, inevitavelmente afectá-los. Mesmo que não saibam ler o que escrevemos, mesmo que não percebam o que dizemos, mesmo que não estejam presentes quando discutimos. A nossa prole é parte de nós, tudo o um dia nós fomos como crianças terá influência na infância dos filhos que iremos ter. Toda a nossa rebeldia na adolescência tomará um lugar na sua formação como pessoa. Toda a nossa consciência ou falta dela é reflectida no ser humano que sai de dentro de nós.

Eles são únicos sim, mas são parte de nós também, parte de mim e de ti. Loucos são aqueles que pensam, julgam, imaginam, que qualquer acto não terá influência neles, que isto ou aquilo poderá ser-lhes omitido. Aquilo que nos une é demasiado, os laços de sangue, de convivência, de responsabilidade foram feitos e não podem ser desfeitos. Não só porque queremos, porque só agora, durante este bocadinho, dava jeito.

Como se arca, se vive com esta responsabilidade? Se conseguires conviver contigo, consegues conviver com a influência que possas ter neles, quer queiras, quer não. Se conseguirmos viver bem connosco, com aquilo que somos, então estaremos sempre de bem com aquilo em que se irão transformar. São, verdadeiramente, o nosso legado.

O Pensamento

“Se estás à espera que responda sem pensar, o melhor é perguntares a outra pessoa.”
Foi nesta resposta, dada tão prontamente que nem de mim parecia sair, que me pus a pensar. Sempre fui considerada cabeça no ar, distraída, com falta de memória. Nunca debito a informação tal qual me é passada, por mais linear que seja. Isto tem uma razão de ser: eu penso! Não só às vezes, mas continuamente, como qualquer ser humano. Esta afirmação pode parecer um pouco inusitada, mas tem razão de ser.
A verdade é esta, estou continuamente a pensar, e cada pessoa foca automaticamente e inconscientemente os seus pensamentos nos seus focos de interesse, ou, por outro lado, nos seus medos.
Isto é algo que não é passível de ser controlado, pelo menos não com facilidade, pois ao pensarmos que não queremos pensar nisto, estamos automaticamente a fazer o inverso e o pensamento inicial, ao invés de se afastar, intensifica-se.
Pois bem, a consciência que consigo ter é de que analiso a informação à medida que me é transmitida, mas nem sempre consigo esperar que seja transmitida na totalidade antes de começar a processá-la. Ou seja, no início da ideia que me querem transmitir, automaticamente os meus pensamentos são despoletados analisando, interpretando e mesmo extrapolando o que me está a ser dito, antes que a ideia inicial esteja completamente transmitida.
Isto causa, por vezes, algum ruído na comunicação, principalmente se o que me está a ser transmitido fôr realmente interessante. O que significa que, mais facilmente me distraio com algo que me causa interesse do que com algo que me pareça aborrecido.
É estranho, não é? E até pode parecer um grande disparate. A verdade é que sempre me pareceu impossível de defender tal tese, até ter sido defendida por quem percebe, realmente, do assunto. Falo de Augusto Cury, renomado psiquiatra brasileiro, autor de uma série de obras que retiveram a minha total e incondicional atenção.
Então, A.Cury defende:
“Somos todos viajantes no mundo das ideias: viajamos para o futuro, imaginando situações ainda inexistentes; viajamos também para os problemas existenciais. (…) Uns constroem projectos e outros, castelos inatingíveis. Uns viajam pouco nos seus pensamentos, outros viajam muito, concentram-se pouco nas suas tarefas. Estas pessoas pensam que têm pouca memória, mas, na verdade, possuem apenas pouca capacidade de concentração devido à hiperprodução de pensamentos.”
Pois é, tenho aqui justificação científica para escrever, escrever, escrever tudo o que me ocupa a alma, o pensamento, a razão.

terça-feira, 19 de julho de 2011

O que nos põe doentes também nos faz mais fortes?

Perante as adversidades da vida, temos variadíssimas formas de reagir, podemos lutar, desistir, engolir, ignorar, esquecer, conformarmo-nos ou mesmo até remoer.
Mas mais do que a reacção imediata àquilo que nos confronta, o importante, aquilo que realmente nos define, é a forma como conseguimos viver ou conviver com estes acontecimentos depois do primeiro impacto.
Podemos estar a falar de pequenas coisas, que até parecem sem importância para uns, e ser alvo de grande distúrbio para outros, mas podemos também abranger os grandes acontecimentos que determinam toda uma vida.
O que nos define como pessoas não é o termos perdido o emprego por uma casualidade do destino, termos ou não encontrado quem nos satisfaça ao ponto de querermos partilhar o resto da vida…
Mas sim o que fizemos depois de perder o emprego, se encarámos este facto como uma fatalidade da vida ou como uma oportunidade, se deixámos que nos tirasse o ânimo ou, por outro lado, espicaçou-nos ao ponto de arriscarmos uma vida totalmente diferente.
Porque o típico português tem muita tendência para a fatalidade e para o fado, encara com tristeza cada fase da vida, resiste à mudança até ser absolutamente inevitável. Mas este também é o português do desenrascanço, mostrando uma excelente capacidade criativa e de engenho quando assim o pretende. Nitidamente é uma questão de motivação. O que não nos mata torna-nos mais forte, infelizmente só quando quase nos mata é que finalmente resolvemos dar a volta ao bicho e pôr mãos à obra, mudar a rota do nosso destino.
Aqui está, enquanto resistimos, conformamo-nos e tentamos ignorar, vamos ficando doentes, porque o nosso organismo recusa uma acção passiva sobre aquilo que o ataca. Mas perante muitas insistências e ataques, pomos em risco a nossa própria existência. Nessa altura, podemos ter aguentado os ataques de tal forma, que deixemos de ter capacidade de reagir quando nada mais nos resta.
Agora pergunto: será que o que nos põe doentes também nos faz mais fortes? Indubitavelmente sim, basta querermos.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O Olhar

Quando era mínima (5/6 anos) tinha uma adoração por olhos azuis, por serem tão raros. À medida que fui crescendo as preferências foram mudando, passando pelos tradicionais olhos verdes em pele morena, aos castanhos escuros, quase pretos e muito misteriosos.
Os anos vão passando, as preferências vão mudando, o gosto não passa. Depois comecei a reparar que há olhos muito mais expressivos do que outros, que a diferença que os podia tornar realmente diferentes seria nas emoções que eram capazes de transmitir. 
Também a forma como uns olhos brilham quando nos fixam fazem toda a diferença, muito mais do qualquer côr ou formato.
Ultimamente, por ter um trabalho comercial, resolvi fazer uma experiência que tenho repetido com alguma frequência: tentar olhar directamente na alma da pessoa que fica do outro lado da mesa. São pessoas que acabo de conhecer, sobre as quais pouco ou nada sei a nível pessoal, portanto sem quaisquer julgamentos prévios. A meio de uma conversa, da apresentação de um produto, seja o que fôr, espero por uma oportunidade por encarar a outra pessoa no seu estado mais cru, um olhar profundo para dentro do espelho, um mergulho na alma. É claro que tal é extremamente difícil, primeiro porque não são muitas as pessoas que se dignam a olhar-nos nos olhos enquanto falam connosco, depois, porque as que o fazem não fixam o olhar durante mais do que fracções de segundo de cada vez. Poucas são as pessoas capazes de suster o olhar durante largos segundos, dos raros que o fazem, apenas conseguimos ver uma película baça que distorce e torna inacessível, o que quer que se encontre dentro daquela alma (se é que existe...).
Mas há excepções há sempre excepções.
São as excepções que nos fazem crer em algo melhor. 
Alguém que seja verdadeiramente excepcional, não só no meu entender pessoal, ou de um pequeno grupo de pessoas, alguém que tenha tido a capacidade de mudar o curso da Humanidade, como será o seu olhar? Tresloucado e inacessível como o de Einstein, ou cheio de candura e sabedoria como é retratado Jesus Cristo? Será que Jesus teria mesmo um olhar caracterizado pela inocência? Hoje dei por mim a perguntar, como seria o olhar de Jesus, o que nos faria sentir, seria visível aí aquilo que O diferencia de todos nós, seria absolutamente brilhante e inacessível? Permitir-nos-ia que mergulhássemos na sua alma? Na alma que é Deus? (e não somos todos um pouco?!)
Cheguei a uma conclusão, no Seu olhar não poderia prevalecer a inocência e a candura que nos faz querer proteger alguém, e também não poderia ser inatingível, pois Ele veio para nos tocar a todos no mais profundo do ser.
Gostaria de ter a experiência de conhecer o olhar de Jesus. Até lá olharei para o teu, na tentativa de te descobrir e o melhor que há em ti.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Depois da tempestade, vem a bonança

A menina que estava perdida na floresta adormeceu a chorar. Aquele sítio que lhe tinha parecido tão escuro e desconhecido ontem, hoje já não parecia assustar, o sono foi reparador. Assim que acordou e reparou onde estava, não se preocupou com o vestido sujo e amarrotado, nem se lembrou de se pentear. Mais do que isso, apesar de não se lembrar como lá tinha ido parar, também não perdeu muito tempo a pensar nisso. Tinha uma vaga ideia de algo, com a lembrança enevoada de um pesadelo, de que teria corrido, fugido desesperadamente, mas já nem se lembrava bem do quê, nem porquê... Tinha ficado com aquela sensação incómoda e indefinida que os sonhos nos deixam, quando são muito intensos e acabamos de acordar. Foi com essa sensação que ficou, mas rapidamente se desvaneceu ao explorar o mundo onde se encontrava. De repente, nem se questionou onde estava nem o que estava ali a fazer, todo o passado passou a não mais do que isso, um passado. Podia ser seu ou de qualquer outra pessoa, pouco importava. Agora estava aqui, nada mais importava. Foi explorando, com aquela curiosidade contida e divertida que a caracterizava. Foi-se deixando encantar, como se estivesse a viver tudo pela primeira vez.

Na verdade estava, pois nunca tinha estado naquela situação, mas ao invés de chorar e gritar pelo mundo desconhecido que a rodeava, limitou-se a gozar a paisagem. Foi seguindo... nem sempre em frente, mas nunca voltou para trás. Finalmente, a vida tornava-se uma aventura, como nos filmes, como nos desenhos animados, como nos seus sonhos.

Que seja assim com todos nós. Que tenhamos a capacidade de ver para além do óbvio, em cada momento, em cada encruzilhada, a cada dificuldade que nos atravesse o caminho. Porque o amanhã é um outro dia, mas hoje é o amanhã de ontem. Façamos por isso. Comecemos de novo. Nada do que foi importa, nada do que será traz consequências.
Agora é o momento, pois nunca é tarde demais.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Desânimo...

Isto de tirar a alegria de viver a quem sempre se considerou optimista tem que se lhe diga. Não considero o mundo melhor ou pior do que há uns tempos atrás, apenas tenho menos vontade de vivê-lo... Não considero ter sido mais ou menos vítima de injustiça do que o próximo, nem mais nem menos cruel do que o ser humano comum, não me passa pela cabeça que haja alguma cabala o sentido de me de derrotar, nem sequer alvo de tanta atenção que pudesse, num extremo, dar nisso. Simplesmente a minha cabeça começou a funcionar de maneira diferente. Vê aquilo que via, processa a informação que já processava, mas o resultado e a assimilação é diferente. Os pressupostos mudaram, é certo, consequentemente, tudo mudou.

Gostava de voltar a sentir aquela alegria que me contagiava, a sensação de ter uma referência permanente, a arrogância tão característica da juventude, tão absolutamente essencial para lutar pelo nosso bem estar, pelo melhorar do mundo.

Tanta conversa e não me sinto ninguém, escrevo para mim e publico nem sei porquê, porque em tempos meti na cabeça que assim o faria, então assim o faço. Chega uma altura em que me sinto tão perdida que não só não sei onde anda o norte, como desconfio da sua existência, do propósito da procura, da razão da caminhada.

Tem dias que o sol brilha, tem outros que nem por isso. As saudades que tenho de me sentir a brilhar com o sol  nos dias de verão (...), pois agora faz calor lá fora, mas o inverno aqui persiste.

"Sê fiel a ti própria" ouço-me dizer, mas se já nem sei quem sou...

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Perdido o norte!

A outrora semente decidida, brotou naquilo que hoje vemos, mas nada é por acaso, tudo tem sempre uma razão, e tem o triste hábito de fazer parte de algo maior. Algo tão grande que apenas se consegue ver à distância, quanto maior a distância, mais nítida a imagem final.
Acabamos por acreditar - temos de acreditar - nesse ultimo desígnio, aquele que dificilmente se alcança nesta vida, mas nos acompanha por tantas outras... Sinceramente, que jeito dava ter uma pequena ideia daquilo que é esperado de nós, afinal, que fazemos nós aqui?!... Era muito mais simples saber, assim, quando nos sentíssemos mais próximos de Deus, num momento de clarividência, podíamos saltar e mergulhar, assim decidir: é agora que vou sofrer, sofrer para aprender, mas sei qual o propósito, por isso faço-o de bom grado, com uma ligeira noção daquilo que é pretendido.
 
Mas verdade seja dita, se tivéssemos essa noção, não significaria que o jogo estaria viciado à partida? Não seria fazer batota?!
Podemos até escolher quando, podemos até escolher o quê, mas após as escolhas feitas, tudo o que resta dessa consciência é apagado, diluído, esborratado, até ficar completamente indecifrável. Quando nos esquecermos de tudo o que sabemos, quando já não restarem quaisquer indícios do desígnio inicial, só então estaremos prontos para realmente aprender, experênciar, viver.

Como tão bem disse Sócrates: "Eu só sei que nada sei."

E esse é o ponto de partida.

Bussola, procura-se!

Nem sempre sei o que quero, nem sempre sei o que procuro, o nevoeiro instalou-se, os instintos desvaneceram-se e fico aqui, angustiada, desorientada, perdida.

Perdida pois perdi o meu norte, e quem diz ser fácil de o encontrar é por nunca tê-lo perdido verdadeiramente.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O Chamamento do Guerreiro.

Mesmo que não nos apercebamos, há uma batalha constante, dura e cruel, por vezes até desmoralizante. É uma batalha sim, brutal até, entre a escuridão e a luz.
Para nós ganharmos não poderemos matar ninguém, pois esse será o verdadeiro desafio. Se nos batermos com as regras do inimigo, não seremos nem mais nem menos do que o próprio inimigo. Para que esta guerra seja bem sucedida, as nossas armas não poderão ser as mesmas. Onde não há luz, a escuridão aparece.
Como noutros tempos, resta-nos lutar pela conversão. Quantos mais seres convertermos em seres de luz, menor será a escuridão. Se lutássemos com as armas deles, independentemente de quem ganhasse, a escuridão seria total.
Não nos deixemos contagiar. Temos todos de lutar por um mundo melhor, em que os valores ensinados às crianças sejam os nossos. Estamos todos cansados, empoeirados, apagados. Mas não nos podemos deixar cair. A batalha está a chegar (já chegou), temos de nos preparar!
Sacode as asas, penteia o cabelo, tira toda essa poeira de cima dos ombros.
Vive, que a hora é agora e todos nós vamos ser necessários. Cada um conta, todos somos importantes. A hora de vigiar está a terminar. Está a ficar na hora de abandonar tudo e lembrarmo-nos de quem realmente somos.
Vem, tu e eu somos dois, juntos vamos conquistar o mundo!

Um Mundo alternativo

Muitas vezes pensamos como seria se a nossa vida não tivesse corrido como correu, se em um ou outro momento fulcral as nossas escolhas tivessem sido outras, onde estaríamos neste momento. Falamos de planos paralelos, vidas alternativas, whatever.
Teríamos curiosidade de saber onde estaríamos agora, se seríamos mais ou menos felizes, como seria o nosso dia-a-dia...

Agora proponho o inverso. E se fosse ao contrário? E se um outro “eu” nosso nos viesse visitar a esta vida, o que acharia das escolhas que tomámos? Ou seja, mais do que viver num mundo alternativo, pensando como tudo poderia ter sido se isto ou aquilo tivesse corrido de maneira diferente, porque não analisar a vida que temos agora? Se um outro “eu” nos viesse visitar ficaria agradado com as escolhas que tomámos? Mudaria essencialmente o quê? Dar-nos-ia uma ajuda com ideias para alterar algo crucial no nosso dia-a-dia que nos permitisse desfrutar do presente de forma diferente?
Ficaria positivamente surpreendido com algo que fizemos? E porque não perguntar-nos a nós mesmos, sem grandes preconceitos ou entraves de que mudar algo é muito difícil de fazer, se estamos contentes com o que temos? Se aquilo que decidimos, ao longo dos anos, ao longo do tempo e em cada momento, é ou não o melhor que conseguimos para nós próprios?

Eu, pessoalmente, tenho uma questão. Não gostava nunca de ter deixado de estudar. Terminei o curso, sem grandes dificuldades é certo, mas foi numa área que nunca me deu grande gozo. Poderia ter tirado outro de seguida, um que se adequasse mais àquilo que pretendo para mim mesma, algo que permitisse exercer uma profissão que até me pudesse preencher de alguma forma. Mas achei que já tinha passado a hora, que a vida já me tinha dado essa oportunidade e não podia voltar atrás. Não podia estar mais enganada. Há escolhas que são sempre possíveis de serem feitas em qualquer altura da vida, agora ou depois, antes ou depois de ter filhos,casar, ter de sustentar uma casa... É sempre possível, pode não ser tão fácil, mas não deixa de ser possível. È mais complicado, exige mais esforço, empenho, organização, mas não deixa de ser possível apostar naquilo que realmente gostamos. Digo isto, mais do que para vocês, digo-o essencialmente para mim. Repito-o uma e outra vez, olho para o lado e vejo quem consiga, quem, a trabalhar, sustentar casa e filhos, ainda tenha coragem e força de voltar a agarrar os livros como se não houvesse amanhã, lutar por aquilo que sente a vá fazer feliz.
Eu quero ser essa pessoa. Só depende de mim sê-lo. Sei que se um outro “eu” me visitasse era isso que me iria dizer.
E a ti, o que te diria?

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Todos em Um

A vida é assim, díspar. Quando queremos muito uma coisa e conseguimos enviar a mensagem correcta para o universo, existe uma larga possibilidade de que ela nos venha a ser concedida.

Podemos pedir muito uma criança, e quando ela vem apercebemo-nos de que não pedimos que viesse com saúde. Podemos pedir algo extraordinário e não ter capacidade de lidar com o que pedimos. Podemos pedir estabilidade e quando nos é concedida realizamos que é o risco e o desafio que nos faz feliz. Que os valores dos outros não são necessáriamente os nossos. Que aquilo que faz feliz o nosso irmão não nos faz a nós. Que não somos nem mais nem menos nada por isso.

É mais fácil analisar à distância, olhar para os outros e perceber o que os incomoda, o que os faz felizes, do que olhar para dentro e compreender o mesmo. Se assim não fosse, como seria possível interpretar o facto de não fazermos permanentemente o que de melhor seria para nós? Como podemos justificar o colocar-nos em situações que não nos são favoráveis, nem para aprender nem para usufruir? Como podemos justificar as opções erradas, as escolhas adiadas, as fotografias por tirar, as recordações esquecidas?

Mais do que aprender a viver com os outros, temos de aprender a viver connosco. A paisagem que nos rodeia é sempre passível de ser mudada, os intervenientes também, mas nós somos sempre nós, e connosco temos de aprender a viver.
Temos de aprender a viver como nosso corpo, com as suas limitações e necessidades, tirando o melhor partido que podemos da enorme complexidade de orgãos, tendões e músculos que nos compõe. Aprendendo a ouvi-lo e dar-lhe o que ele precisa para nos retribuir com o maior rendimento e bem-estar possível.
Temos de aprender a viver com as nossas emoções, aceitá-las todas, pois só na sua equidade poderemos manter o equilíbrio. Não podemos só rir, temos também de nos entregar ao choro quando dele dependemos para descarregar algo muito forte.
Temos de aprender a estimular a mente e dar-lhe o que ela precisa para nos continuar a ajudar. Não fomos feitos para estudar durante 12 ou 16 anos e depois deixá-la adormecer. Esses anos iniciais deveriam ser só o exercício necessário para pô-la em forma, de maneira a que nos seja util o resto da vida. Se não a estimularmos com regularidade corremos o risco de nos acharmos velhos e sem capacidade de aprender. Mas a capacidade de aprender não se restringe, de todo, à juventude. Aliás, para quem saiba usá-la, a mente traz a sabedoria aos mais velhos, aquela que não depende só da idade mas do uso que se dá ao tempo que temos.
Temos de aprender a comunicar com o espírito, pois embora ele não se esqueça de nós, temos muita tendência a esquecermo-nos dele. A comunicação tem de ser treinada regularmente, tal qual o exercício físico, sob pena de não nos dar  rendimento necessário, neste caso, a orientação de que precisamos para prosseguir.

E temos, sobretudo, de interiorizar que não somos só mente, não somos só físico, assim como também não somos só espírito. Apenas conjugando cuidadosa e harmoniosamente todas as partes do nosso ser teremos hipótese de concretizar o objectivo que aqui nos trouxe.

Eu quero ser feliz, e tu?

A verdade ou a disparidade?

Não se pode agradar a todos, é sabido, até porque tudo nesta vida tem várias interpretações, pelo menos uma por pessoa. Aquela história de que a verdade é só uma, já foi. Parece-me mais do que evidente de que verdades existem muitas, a minha, a tua, a dele... nenhuma mais verdadeira ou mais importante do que outra.

No entanto, continuamos a tentar conjugar todas as realidades, permanentemente. Quem é que tem razão, de que forma as coisas devem ser feitas em cada momento, tentar ficar o mais isentos possível de qualquer interpretação dúbia. A informação, que deve ser transmitida de forma clara, pode ter sempre mensagens subliminares, se não por quem emite a informação, então por quem a recebe, que poderá fazer o mesmo trabalho.

Tal é patente na análise das obras de arte, estejamos a falar de pinturas, esculturas ou mesmo poemas. O artista pintou assim porque queria dizer isto e aquilo, escreveu este poema mas queria transmitir esta ou outra ideia da qual não se encontra qualquer registo. Será que os artistas, quando criaram as suas obras estavam mesmo a pensar em 2, 3 ou 4 ideias diferentes a transmitir de forma indirecta? Ou será que simplesmente deram forma àquilo que lhes ocupava o espírito, tentando livrar-se de algo incómodo e inconsciente com o único objectivo de sentirem-se mais leves?

Assim somos nós no nosso dia a dia, pensamos mais ou menos naquilo que dizemos, na forma como fazemos, na importância que damos a isto ou aquilo. Mas por mais cuidados que tenhamos, somos sempre, mas sempre, passíveis de ser mal interpretados. Há-de sempre haver alguém, mais próximo ou mais afastado, que nos olha nos olhos e vê algo completamente distinto daquilo que realmente somos. Será culpa nossa, será dos outros, esta disparidade de ideias? Qualquer resposta a esta questão parece-me absolutamente irrelevante.

Absolutamente essencial é estarmos a par de como as coisas funcionam, que todos somos diferentes, por mais que nos tentemos aproximar nunca seremos iguais. Cada um com o seu propósito, cada um com o seu objectivo, cada um com o seu par de olhos e lentes muito próprio.

Sintam-se insultados ou elogiados pela minha presença, pois nada poderá travar a corrente do que sou.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Cego é quem não quer ver

Estou cansada, permanentemente cansada. Quanto mais coisas tenho em que pensar, quanto maior a gravidade dos assuntos em mãos, mais arranjo com que ocupar as mãos. Trabalho, limpo, cozinho, arrumo, faço e desfaço até à exaustão, na esperança de que, perante o meu cansaço, os problemas tenham dó de mim e queiram resolver-se sozinhos.

Por mais ou menos racional que seja uma atitude destas, confesso que não é mais do que um impulso, algo difícil de controlar. Na ausência de controle daquilo que realmente interessa, dos assuntos que nos governam a vida, há sempre a tentativa de controlar, nem que sejam as coisas pequeninas. No entanto estou cansada, muito cansada, e tudo continua por resolver.

Há que entregar aquilo que é mais importante, a quem pode, deve e sabe decidir por nós. Mas será que Deus fará todo o trabalho por nós se não dermos uma ajudinha?

Será que basta ter a sensatez e humildade de entregar a nossa vida, e encarar tudo com passividade? Então e a luta, a conquista? Será que todos os grandes momentos são feitos puramente de acasos divinos? Qual o nosso papel no meio de tudo isto? Será que todos os grandes Homens esperaram quietos e sentados aguardando o momento em que seriam chamados?

Quero participar e não tenho coragem, quero agir e vejo-me parada, quero tomar a iniciativa mas falta-me a pertinência.

Dá-me a tua luz, Senhor e ensina-me a ver.

A encruzilhada

Cheguei a uma encruzilhada. Montei o cenário todo e agora não sei o que faça com ele. Tudo está no seu lugar, tudo está preparado para o que vai acontecer, mas e agora? Estamos nos momentos que antecedem um desfecho grandioso, mas ninguém (eu, pelo menos) sabe qual o próximo passo a dar.
Dum lado temos o cenário da crise política, com os maiores corruptos a darem a cara, descaradamente temos tudo o que é mau e negativo a vir ao de cima.
Vemos/sentimos o crescendo da musica depois de todos os instrumentos já estarem em cena, o ritmo evolui, mas ninguém sabe para onde vai nem como acabará. Devemos ficar sentados na plateia, certos e seguros de que a história terá um final feliz - só pode, já que somos nós a vivê-la... Ou devemos antes entrar em cena, participar com um fundo de ritmar de palmas, dando força sem nos intrometermos demasiado?
O que faço agora com o que tenho nas mãos?

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A desilusão

A desilusão é uma consequência quase inevitável da expectativa.
Hoje em dia temos expectativas sobre tudo e todos, no emprego e em casa, acerca de pensamentos e atitudes, sobretudo dos outros.
Como se gere expectativas? Como nos protegemos da desilusão? Da mesma forma que poderíamos nos proteger da tristeza. Se não sentirmos, não entristecemos, mas também não sentimos as alegrias da vida. Esta é a dualidade da vida:
Alegria - Tristeza
Expectativa - Desilusão
Viver/Sentir - Morrer

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Um lugar diferente

Hoje em dia, para nos enquadrarmos nalgum lugar, nalgum ambiente, nalgum grupo, teremos de assumir um papel, papel esse que já existe antes de nós entrarmos em cena.
Ou seja, para um perfeito enquadramento ninguém espera que sejamos nós próprios. Aliás, ninguém quer que nós sejamos fiéis a quem somos, apenas fiéis a um papel, a um guião que já foi criado. Alguém desenhado para cumprir certos propósitos, e ninguém quer saber se esses propósitos são os nossos também.
Ao assumirmos um papel que não foi feito à nossa medida, automaticamente estamos a tentar encaixarmo-nos onde não pertencemos. Ao assumirmos esse papel estamos a aceitar que nos seja colocado um rótulo. Rótulo esse que, por o termos aceite, iremos tentar agir de acordo com aquilo que achamos que é esperado de nós. Em todo este processo, quem realmente somos não interessa para nada, ficou esquecido...
Se nós esquecemos quem somos, é garantido que ninguém nos vai lembrar... E agora pensamos, mas então, se há papeis já criados em todas as situações, teremos forçosamente de nos enquadrar neles se quisermos ser felizes, se quisermos fazer parte desta sociedade, se nos queremos enquadrar neste mundo.
Pois, mas não:
a) Para ser feliz é preciso uma série de situações estarem alinhadas e que poderão ser distintas para cada pessoa. No entanto, no caminho para a verdadeira felicidade, o enquadramo-nos num papel não tem qualquer relevância. O aceitarmo-nos a nós próprios tem.
b) Podemos querer muito fazer parte desta sociedade, mas será que concordamos plenamente com a forma de funcionamento da mesma, ou teremos algo a dizer sobre o assunto?
c) "Enquadrar neste mundo" é passível de várias interpretações, mas a mais imediata será a de "cabermos dentro de um quadrado", ou seja, sermos feitos à medida para um lugar pré-existente. Neste momento existem tantos lugares como pessoas, pois existe um lugar para cada um de nós. Poderá, eventualmente, não ser aquele que sempre pensámos ou idealizámos, poderá até ser um lugar não muito confortável, mas garantidamente existe.
Existem os lugares porque o mundo permitiu que nós existíssemos e só o poderia fazer guardando um lugar especificamente para nós.
Será esse um lugar tradicional, dentro da dinâmica convencional e existente na sociedade hoje? Não.
Será um lugar para quem realmente somos, na essência. Não um lugar para a pessoa em que nos transformamos para tentarmos ser aceites cumprindo certos requisitos.
Somos quem somos e não quem querem que sejamos.
Aceitemos.
Sejamos fiéis a nós próprios, com orgulho e sem preconceito!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A Frontalidade

Questionamos tudo e todos, com mais facilidade os outros do que a nós. Questionamos o mundo, a justiça, a falta de frontalidade por sentirmos ter sido brevemente iluminados por ela.
A frontalidade, apesar de pouca e dispersa, é muitas vezes recebida com indignação, mas também como um ar fresco que nos desanuvia, sacudindo pontos de vista como uma rajada de vento sacode os cabelos.
Falo aqui da frontalidade pragmática e objectiva, não apenas de confronto puro, tão diferente na sua génese que poderá até ser o oposto da frontalidade, em várias das suas formas.
É sabido que as pessoas não dizem o que pensam, que é tudo cheio de esquemas, diplomacias e politiquices, que nada é dito de frente, cru e duro como deve ser a verdade.
Por vezes penso que as verdades não são ditas porque as pessoas muito simplesmente não pensam.
É muito mais fácil reagir do que agir, protestar do que construir, omitir que revelar... Dá muito mais trabalho. E Deus nos livre e guarde de termos de usar um órgão tão complexo como o cérebro, na busca de algo tão simples como a verdade, afinal, seria um "verdadeiro" desperdício!
Ou seja, para sermos frontais, pragmáticos, verdadeiros, temos de saber ouvir e analisar com isenção, encarar os factos como eles são.
Os discursos que ouvimos, quer no dia-a-dia, quer na boca de grandes dirigentes políticos e afins, por norma não são mais do que palavras completamente desprovidas de conteúdo.
Não é por conseguir argumentar de forma consistente e durante horas a fio sobre quais as razões que tinha para não subir à árvore, que vai alterar o facto de tal ter acontecido e estar, neste momento, a olhar para mim de soslaio, com o seu característico ar de desinteressado.
As coisas são o que são, deixemos de discuti-las, aceitemo-las. A verdade é que não temos outro remédio.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A Fé

Muito pouco se fala sobre a Fé hoje em dia. A culpa também é minha, é algo que tenho por garantido e portanto, sobre a qual nunca senti necessidade de me expressar.
A verdade é esta, a Fé, ingrediente absolutamente essencial para atingir a felicidade, como qualquer outro, ou se nasce com ele, ou apenas arduamente se conseguirá alcancá-lo.
Este é um dom com o qual tive a imensa graça de nascer. Mas Deus não quis que ficasse com menos experiência e compreensão da comum condição humana, e por isso trouxe-me a dúvida.
Desde sempre que a Fé faz parte de mim, em todos os momentos da minha vida me senti ternamente acompanhada. A minha voz interior nunca me deixou mal, embora muitas vezes, teimosamente, insistisse em não seguir os seus conselhos.
Agradeço profundamente por este dom que me foi dado, e faço-o porque também eu duvidei. Por muitos momentos, por difíceis que fossem, nunca me senti vacilar, Deus sempre me acompanhou, carinhosamente, desde os primeiros momentos. Por vezes senti vontade de abandonar este mundo, mas sempre porque sabia o que me esperava no Outro, e sabia e sei que esta não é uma decisão minha para tomar.
No entanto, também houve a altura em que me perdi completamente, o desgosto foi tal que me desorientei ao ponto de não saber quem sou. E nesse momento, Deus presenteou-me com o dom da dúvida. Pela primeira vez na minha vida deixei de sentir conforto, procurei pela Sua companhia e não a encontrei.
Mas tal como vem nas escrituras, Jesus não me abandonou, apenas eu não O conseguia ver. Agora que me reencontrei, reencontrei-O também.
Agradeço por esta experiência, pois ajudou-me a dar um imenso valor ao Dom da Fé.
A quem não nasceu com este dom, posso dizer, por experiência própria, Deus nunca nos abandona, mas por vezes gosta de jogar às escondidas.

Um mundo sem sentido.

Às vezes fazia falta que o mundo fizesse sentido. É especialmente quando sentimos uma grande injustiça na pele que temos tendência para nos revoltar.
Revoltamo-nos contra o estabelecido, contra a ordem natural das coisas, contra nós próprios e as atitudes tomadas.
É neste sentimento de revolta que nos dignamos a julgar, analisar, quem sabe até crescer.

Vale a pena correr o risco

Dá-se muita atenção aos sintomas, àquilo que somos obrigados a ver, mas com um pouco de maquilhagem, a dose certa de base e pó de arroz e disfarçam-se as borbulhas...
Agora questiono, e isso resolverá a causa dos sintomas? Será garante suficiente de que tal não voltará a acontecer? Dificilmente as borbulhas irão desaparecer com a maquilhagem, pode-se até não reparar nelas por momentos, mas provavelmente piorarão enquanto não se tratar convenientemente da infecção.
Da mesma forma, embora muito popular, é garantido que não há operação plástica que cure um verdadeiro caso de falta de auto-estima, o desconforto sentido por vivermos na pele que escolhemos (ou não).
E sendo a depressão a doença mais disseminada e divulgada da actualidade, pouca atenção se dispensa com as causas, embora cause muita preocupação os casos chamados depressivos, por ser bestialmente desconfortável conviver com elas.
No entanto, em nenhum destes casos, assim como em muitos outros, se fala e discute com a mesma intensidade, vontade e sabedoria sobre a causa de todos estes sintomas. Isso seria ir ao fundo dos problemas. Nós, o Ocidente, temos por costume esconder aquilo que incomoda, disfarçar o que traz desconforto, camuflar o embaraçoso. Não somos conhecidos por ir à raiz das questões. Será esse o nosso problema. Será isto que temos de mudar? A nossa inevitável necessidade para o imediatismo, tudo o que seja de consumo imediato, agradável à vista, sem complicações. Ora, com tanta vontade de ter um mundo perfeito sem ter de pensar muito no assunto, deu nisto.
Qual será a real causa de tantas depressões? Será mesmo a crise, aquela provocada pela falta de valores éticos e constante aposta em sistemas comprovadamente errados, por serem a solução mais fácil?
Ou será, isso sim, a falta de importância que damos ao Ser humano como um todo? Porque o ser humano, como todos sabemos, é uma história por si só, cada um de nós. Temos inúmeras características que nos distingue dos nossos pares, características ambientais, emocionais, genéticas, psicológicas, físicas e espirituais. Mas era muito mais fácil se nos enquadrássemos dentro de certos grupos. E assim criamos rótulos, tratamos toda a gente que se inclui naquele rótulo da mesma forma, esperando que a cura de um seja a cura de todos, as mesmas doses para os mesmos problemas. Mas são pessoas diferentes, esquecem-se disso.
Quantos casos, por desconhecimento ou indiferença, são mal diagnosticados, mal encaminhados, mal tratados?
Onde está a centelha divina do Ser humano, aquela que nos torna seres únicos, impossíveis de copiar?
Vamos dar atenção a cada um de nós, aprender a conhecer-nos e aceitarmos aquilo que realmente somos e não aquilo que os outros querem que sejamos.
Façamos um esforço, por nós, pelo outro, de aceitar a sua individualidade, respeitá-la e inaltecê-la.
Vamos correr um risco: o de sermos nós próprios.

sábado, 23 de abril de 2011

A natureza da Humanidade

Há quem diga que já está tudo inventado, que não há mais nada a descobrir. Que o tempo dos descobrimentos já foi, hoje em dia tudo é tecnologia, novas coisas surjem todos os dias e são introduzidas na nossa rotina diária sem que lhes demos muita importância, nada que nos mude radicalmente a vida.
Quanto a outros mundos a descobrir, parece-se ter algumas certezas quanto às condições habitacionais dos planetas que nos estão mais próximos, quanto aos outros, estão demasiado longe para que nos ocupem o espírito.
Mas o mundo mais inexplorado é o que nos está mais próximo, e é uma descoberta em que cada um de nós ocupa um papel de extrema relevância,em que ninguém é mais importante do que o outro.
Como podemos olhar para o mundo de hoje e chamar-nos espécie evoluída? Como poderemos estar em alto estágio de evolução se continuamos a deixar morrer crianças à fome, se temos os bens essenciais tão mal distribuídos? No fundo, aqui a questão é que raramente ou nunca nos vemos como um organismo vivo: a Humanidade. Aliás, os homens fazem parte da natureza, mas também não nos incluímos aí, falamos da natureza como se fosse uma espécie à parte na qual não temos qualquer influência. Por outro lado, somos capazes de ver  natureza como um todo, desde que não nos incluamos lá dentro.
Afinal o que é o Homem, que não se considera ser parte integrante do mundo natural e raramente se identifica como um organismo único e diferenciado?
Falamos muito das diferenças (dos povos, das culturas, géneros e idades) mas pouco daquilo que nos une.
Na verdade é esse o mundo que ainda está por descobrir: a natureza da Humanidade como um todo.
Todas as outras espécies do reino animal têm a capacidade de se equilibrar como espécie, tendo mais ou menos crias conforme o alimento disponível numa estação, ou sacrificando liminarmente alguns membros em prol da colónia, da espécie.
Nós continuamos indiferentes ao sofrimento alheio, como se não fizéssemos parte do todo, como se cada acto não tivesse uma série de consequências inevitáveis.
Temos todo um mundo para descobrir, pois para agirmos como um todo teremos de estar em paz connosco próprios. Para alcançarmos essa paz, será inevitável o auto-conhecimento, a todos os níveis: físico, psicológico, emocional e espiritual.
Se conseguirmos alcançar a paz com o que somos, tal, como tudo, será contagiante. Levaremos uma existência irradiante, deixaremos de poder ignorar o sofrimento alheio, teremos obrigatoriamente de ter noção das consequências de cada acto. Iremos compreender, em cada momento da nossa vida, a Humanidade inteira, ao prejudicarmos o outro estamos automaticamente a prejudicar-nos a nós. Assim,todas as palavras ditas terão outro significado, todos os actos serão tomados com consciência do organismo vivo que somos, colocando o todo como uma prioridade, pois fazemos parte dele.
Vamos fazer esta descoberta, pois embora por vezes se revele dolorosa, a recompensa é inimaginável, é a maior herança que podemos deixar. Tomemos coragem e voltemos a ser os descobridores de outrora,os inovadores do agora, aquilo que sempre quisemos ser.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O momento é agora.

A ansiedade percorre-me as veias na expectativa daquilo que há-de vir.
Está a tornar-se crónica, progressivamente aumentando de dia para dia.
Sinto que falta pouco. O auge daquilo que está para vir está próximo. E pergunto-me, estarei eu preparada? Estarei a fazer o que está ao meu alcance? Sinto que devia fazer mais, sinto que quero fazer mais.
Anseio pelo momento em que tudo o que é falso irá cair, mas isso ainda está por vir. Esta crise é apenas o começo, o prenúncio daquilo que se segue. O que está para acontecer é ao nível da Humanidade, pois é de homens que falamos: a dita crise de valores.
Anseio pelo que há-de vir, a mudança a bater-nos à porta, a água a avançar, as escolhas a serem feitas: queremos resistir? ou queremos ser agente de mudança?
Tudo a ser decidido em segundos, fracções de segundos, momentos apenas.
Ficaremos por cá ou avançaremos para o próximo nível? Estaremos confortáveis nas nossas posições? Iremos vacilar quando chegar a hora? Ou iremos manter-nos firmes àquilo que sempre fomos, que sempre quisemos ser?
A hora é agora. Pois é agora que tudo acontece. Não há passado nem futuro, apenas o momento presente. E é agora que nós escolhemos o que acontece. É agora que temos de ser fiéis, leais a nós próprios e a quem nos chama. - Leais duas vezes.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A busca do Graal

Chega a Primavera e quando tudo deveria surgir de novo, brotar novas formas de vida das antigas raízes, tudo continua na mesma. Não nos conseguimos adaptar aos ritmos da natureza como se dela não fizéssemos parte.
Como seres humanos que somos, deveríamos fazer parte integrante do mundo natural, seguindo os seus ritmos e viragens, adaptando-nos ao ambiente como se de um só organismo se tratasse.
No entanto, não é isso que se passa. Há muito tempo que recusámos esse papel, colocámo-nos à parte, entrámos em guerra. Entrámos em guerra com a natureza como se de um inimigo se tratasse, considerando tudo uma ameaça, primeiro à sobrevivência, depois à evolução, por fim ao conforto.
Continuamos a desculpar que a natureza tudo sabe e irá encontrar o seu caminho independentemente das agressões que lhe fizermos - há tanta gente a pensar assim, consigo e apenas em si. E da mesma forma que seguem este raciocínio, automaticamente seguem outro também, pensam em si em detrimento dos outros, tornam-se egoístas com todo o mau estar e isolamento que esse comportamento acarreta.
Pois bem, ao mesmo tempo que nos recusamos a seguir os ritmos da natureza e prolongamos o inverno - de intenções, de sentimentos, da vida - recusamo-nos a evoluir, pois segundo as leis da natureza, para nascer algo de novo o velho tem de morrer.
Este inverno prolongado não poderá durar muito mais, é sabido que as estações podem prolongar-se por mais um ou dois meses do que o estipulado, mas não duram para sempre.
Por vezes sinto-me no inverno da Humanidade, em plena Idade Média, onde as forças obscuras rodeiam-nos e ditam as leis. Existe também uma pequena força de rebeldes, independentemente da sua localização, estrato social ou educação, que acreditam e lutam por uma vida melhor. Aqueles que estão dispostos a dar a vida por uma causa, independentemente dos seus fatos andrajosos. Normalmente esta rebelião tem vários líderes, pois todos apoiam uma causa comum e não só um indivíduo.
Esta é uma visão muito romântica, pelo menos para mim que adoro as lendas do rei Artur em busca de um Graal, por tantos defendido ser não mais do que o ventre de Maria Madalena.
Mas não interessa o que é o Graal na realidade.O importante, aquilo que faz realmente a diferença é a busca de algo melhor.
Agora, como então, a busca continua.

Poupança

Pedem-me que poupe nas palavras
Mas é delas que os pensamentos são feitos.
Se as poupo, restrinjo o pensamento,
E é deles que os sonhos são feitos.
Pedem-me assim que poupe nos sonhos,
aqueles que alimentam a vida
dão cor ao dia-a-dia...
Será possível? Plausível?

Sonhem comigo se quiserem
Acompanhem-me nos vôos
onde o pensamento me leva
mas não me cortem as asas,
que fui feita para voar!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Vamos ser verdadeiros.

O assunto do momento é a economia e o estado político do país. Fala-se do défice, da crise, do FMI e da ajuda externa. Discute-se o aumento dos impostos e o descalabro do desemprego. Fala-se das eleições antecipadas e da birra dos dois "meninos" a lutarem pelo poder de um país em ruinas como se tratasse da ultima versão dos beyblade. Fala-se, comenta-se e discute-se que consequências tudo isto poderá ter na nossa vida.

Mas nunca, em ocasião alguma, agora, antes ou depois, ouvi falar sobre oportunidades, sobre o que podemos contribuir, sobre o que realmente tem de ser mudado. Fala-se sobre o que se poderia e deveria ter feito, sobre tudo o que correu mal, e de quem foi e é a culpa de tudo isto. Mas esta não é apenas uma crise política, económica e política, vai também bem além de uma crise social. Esta é uma crise de valores.

Estamos todos no fim de um beco escuro a revirar os restos de caixote do lixo como se fosse essa a unica hipótese que temos. Discutimos tudo o que está mal, mas nunca abordamos as questões sobre um aspecto positivo. As crises existem porque algo está tão erradamente mal (perdoem-me o pleonasmo) que terá forçosamente de mudar. Abanar os pilares da nossa sociedade, e se fôr necessário deitá-los por terra. Já alguém se lembrou de olhar noutra direcção e reparar que no fim da rua há luz? Há toda uma outra vida diferente se assim o quisermos. Só que temos ignorar tudo aquilo que aprendemos e seguir em frente! Ter fé (outra coisa de que ninguém fala e tão importante na equação da felicidade)!

Acreditar que tudo pode ser diferente, se quisermos, se tentarmos, se tivermos coragem de deitar para trás  todos os vícios que fomos ganhando, só porque toda a gente também faz, só porque sim. Teremos de ter a coragem de ser exemplares, exemplarmente correctos, fiéis nós próprios e ao outro - que não é mais do que um outro "eu" nesta enorme teia da Humanidade. 
Não nos esqueçamos nunca que podemos e fazemos a diferença, que com cada acto contagiamos, e somos responsáveis, devendo ficar orgulhosos desses contágio. Vamo-nos contagiar com alegria, empenho e verdade. Vamos realmente construir um futuro melhor, diferente daquele em que agora vivemos.

E sabem que mais? Agora é o momento. Agora em que tudo o que é podre cai, que tudo o que é corrupto aparece à luz do dia, em que parece que nada é verdadeiro. Vamo-nos atrever a marcar a diferença. Eu sou eu, tu és tu, nenhum de nós tem de ser igual ao outro. Vamo-nos destacar pela positiva, pelo que temos de melhor. Vamos fazer deste um lugar melhor,um dia de cada vez.

terça-feira, 5 de abril de 2011

As adversidades da vida

Ontem aboli os castigos lá de casa!

Pronto, enfim, diminui-os drasticamente, mas fi-lo com o ar mais ameaçador que consegui.

Isto porque, a cada asneira tenho o filhote a exigir um castigo imediato. E se demora a atribuição do castigo, ele próprio prontamente arranja um: "vou para a cama sem jantar!"- não vais nada!
Pois é, está mais do que na altura de perceberem as consequências dos seus actos e após um discurso sobre as consequências de uma infinidade de actos, desde o dizer "bom dia" com um sorriso, ao magoar alguém, declarei: "perceberam tudo? Então, a partir de agora vão ter de aprender a viver com aquilo que fazem".
A conversa foi muito produtiva e, entre outras coisas, aprendi que o ar de zangado que fazemos quando estamos a ralhar faz o mais novo rir a bandeiras despregadas... quanto mais zangados estamos, mais ele tem vontade de rir!

Isto é uma maneira fantástica de encarar as adversidades da vida!

A Mentira do Povo

Muitas vezes me pergunto como é possível termos chegado a este ponto, estarmos como estamos.
Afinal, supostamente, a democracia deveria ser isenta, sendo todo um povo a escolher o seu destino. É claro que está longe de ser um sistema perfeito (mesmo!), mas é o que temos por agora. Daqueles que já foram experimentados, parece que é o menos mau. Espero que em breve se crie um novo ou se remodele profundamente este modelo que acaba por ser tão injusto.
No fundo o sistema é tão injusto quanto os homens são injustos, pois são eles que formam o sistema.
Mas será que os fundadores da democracia alguma vez previram uma situação como aquela em que vivemos agora? Em que apenas são eleitos políticos corruptos e quão mais profundamente maus são, mais vezes são reeleitos?
O que vai na cabeça dos votantes? Vento?!
Esta é uma questão que me tem atormentado e para a qual, finalmente, encontrei uma resposta para este comportamento colectivo.
As mentes são pequenas - pequeninas até - porque, como sabemos, utilizamos apenas uma ínfima parte do cérebro e parece que nem sempre escolhemos a mais correcta.
Existe muita gente recta, séria, com profundo sentido ético que aplica ao máximo em todas as áreas da sua vida. Mas não me parece que seja o caso da maioria da população. Parece-me que a maioria de nós tem dificuldade em ver para além do seu mundo, para o bem e para o mal. Ou seja, aqueles que são intrinsecamente bons têm dificuldade em aceitar que os outros possam não o ser. Os altruístas não esperam nada em troca, pois faz parte da sua natureza. Os pacientes esperam também paciência dos outros, os generosos vêm generosidade mesmo onde pode não existir, e por aí adiante.
Ora, se isto é válido para as qualidades, também o é para os defeitos. Tal como os "bons" partem do princípio que os outros também o sejam (ainda que apenas no seu íntimo), os "maus" comportam-se da mesma forma.
Aliás, olham para o próximo e observam: os mentirosos, "até parece que nunca mentiste"; os orgulhosos partem do princípio que todos querem ser como eles; os larápios "queres ver que nunca roubaste... até parece que pagas os impostos todos...". Assim, enquanto os "bons" vêm um fundo de bondade em tudo o que os rodeia, os "maus" acham que nada nem ninguém pode ser melhor do que eles.
Agora poderíamos/deveríamos fazer a pergunta: "e eu? Sou bom ou mau?"
A resposta é clara, quando vemos o que de melhor tem o outro, somos inequivocamente "bons". Sempre que rebaixamos e criticamos o próximo não o considerando ser mais digno de atenção do que uma ervilha, então somos "maus". Tudo depende onde colocamos a bitola.
Então cheguei a esta triste mas (penso que) plausível conclusão: sempre que o povo português vota num corrupto -declarado- é porque ele próprio se considera como tal, logo vê nesse um acto perfeitamente desculpável e corriqueiro. 
É claro que quando votamos - e porque temos de votar uma vez que é essa a voz que devemos ter como cidadãos - podemos nem sempre conhecer bem o candidato, e há gente que consegue enganar/iludir muitas outras. Mas estou a falar dos casos declarados-aqueles que estão a ser julgados por crimes cometidos em funções, que os eleitores sabem com o que é que contam e mesmo assim votam neles. (Podem - há vontade - fazer-me uma lista dos benefícios que o Isaltino trouxe à Camâra Municipal de Oeiras, obviamente que todos temos qualidades como defeitos. Estou a falar em termos de experiência social, os resultados que ele conseguiu obter.)
E agora temos o nosso (ex) Primeiro Ministro demissionário. Com todos os defeitos e qualidades que se podem atribuir ao homem, há uma característica da qual ninguém duvida: é Mentiroso! É um mentiroso comprovado, facto após facto ao longo dos anos culminando nos últimos acontecimentos com visibilidade internacional. O homem mente com quantos dentes tem e também com os que lhe possam faltar, opiniões políticas à parte, este facto é sabido por todos.

Pois é mentiroso e cerca de 30% (no mínimo) da população vai votar nele. O que é que isto sobre nós?! Que toda a gente, provavelmente sem se aperceber conscientemente do seu gesto, vai dizer que é mentiroso também. "Mas não faz mal", desvalorizando o gesto, "se o primeiro ministro também o é", é porque tal é, concerteza, permitido.
Eis o que nos espera, com um simples gesto, mostramos a quem quiser ver que, para além de sermos um país que não se sabe governar, somos sobretudo, um país de mentirosos.

sábado, 2 de abril de 2011

A Pedra e a Água II

Se nos concedessem um desejo, o que pediríamos? O Euromilhões,uma casa de férias, dinheiro para dar a volta ao mundo? Sentirmo-nos-íamos desprendidos e pediríamos saúde, a paz no mundo (à laia das misses) ou o fim da pobreza? Poderíamos pedir a cura para o cancro ou para a Sida, a paz mundial ou maior distribuição da riqueza, tudo causas muito nobres, altruístas até.
Mas e a felicidade? Já ninguém pede para ser feliz? Ou será que já ninguém se lembra?
Vivemos numa época com total inversão de valores, em que o dinheiro vale mais do que tudo o resto. Fala-se em fortunas, em fama e jet-set,operações plásticas e bullying (na escola e no trabalho). Fala-se de guerras, revoluções, subornos e corrupção generalizada. Aspiramos a ser o que não somos, insistimos em ouvir mais os outros do que a nós próprios, andamos completamente perdidos.
Por isso pergunto: e a felicidade? Alguém fala? Alguém a viu por aí, a passar de boca em boca? Eu não.
Publicitam-se os melhores países para viver com base na riqueza média por habitante e não se olha à taxa de suicídios que acompanham as estatísticas. Tenho a certeza que a taxa de suicídios não será um bom indício para procurar a felicidade. O que será então? "Saúde e dinheiro", ouço em coro... Será?!
Podes não sofrer privações, até gozar de muitos luxos, ter uma saúde de ferro, e não ter em quem confiar, um confidente, alguém que te acompanhe ao longo da vida.
Faltará o Amor, já agora a amizade também. O Amor nas suas várias formas, vá. E se tivermos tudo isso, seremos obrigatoriamente felizes? A vida pode, ainda assim, não fazer sentido. Poderemos precisar de um estímulo extra, algo a que alcançar...
"Estabilidade" dizem-me, "em todos os aspectos da minha vida sempre procuro alcançar estabilidade", mas o que é a estabilidade? É ter certezas. Ter certeza de que podemos contar com o Amor do outro, com o dinheiro ao final do mês, com o emprego para a vida, as contas pagas, as apostas feitas, as cartas em cima da mesa, o jogo aberto.
Um dia depois do outro, as rotinas, saber com o que podemos contar, sem arriscar, sem dúvidas ou incertezas. Querer estabilidade assim é ser-se "pedra", é o contrário de evolução, é estar parado.
Queremos viver a nossa vida toda, um dia após o outro sem arriscar, sem espreitar o que está para lá da cortina? É abdicar do desafio, da curiosidade pela vida... Então qual a fórmula para a felicidade? Se não basta o dinheiro,a Amor, a saúde e a estabilidade, então o que falta? Digam-me...
Será mesmo que querem saber?
É que para saber o que nos faz felizes precisamos de nos conhecer bem, e isso não é nada fácil. Sim, somos todos iguais, mas também somos todos diferentes. E o que faz sentido para mim pode não fazer para ti. Como poder ler os níveis de felicidade? Como podemos lá chegar? E queremos mesmo saber? Não é mais fácil virar a página e seguir em frente?
Olhar para dentro, responsabilizarmo-nos pela vida que temos, as escolhas que fizemos, o caminho que optámos tomar, não é fácil. Mas não é definitivo. Amanhã podemos sempre decidir ser Água!

Este é o meu blogue

Tenho a cabeça sobrepovoada de pensamentos e ideias. Se não as libertar, de vez em quando, corro o risco de ficar maluca. Se os pensamentos tomam conta de mim tenho de lhes dar atenção, mas se não escrevo, não me largam, atabalhoam-se uns em cima dos outros, numa concorrência desenfreada de querer chegar primeiro e sem fazer qualquer sentido.
Se escrevo, obrigo a ordenarem-se, darem as mãos e seguirem em filinha indiana, qual meninos da pré-primária. E assim sempre formam 1 linha de pensamento, por vezes coerente, pelo menos para mim.
Este blogue é o meu expoente máximo de envolvimento com as novas tecnologias. Uso-as numa base diária, mas de forma comedida. Reconheço-lhes a utilidade e sentido prático, mas por vezes uma forma de fuga à realidade.
É isto que é este blogue, uma forma de escape aos meus pensamentos, encaminho-os e pode ser que me deixem em paz para apreciar a paisagem.