quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Utopia

Fala-se tanto sobre o que está mal, o que deveria ser mudado, que gostaria de colocar aqui aquilo que penso que poderia ser diferente. Utopia ou não, pois tudo foi utópico em tempos, até alguém agarrar nessas ideias e conseguir levá-las à práctica. Todos os grandes feitos foram primeiro considerados impossíveis, irrealizáveis, disparatados e absurdos até. Ninguém nos impede de pensar, sonhar. Ninguém nos impede de partilhar essa cadeia de pensamentos. A voçês, nada vos impede de comentar.

Falo várias vezes no descontentamento imenso que sinto com a sociedade actual, com o regime de valores actualmente implementado, comento a minha profunda desilusão com a democracia e o capitalismo em que hoje vivemos.

Pois agora proponho algo diferente, proponho uma sociedade que assente em algo que não estamos habituados a falar, algo em que preferimos nem sequer pensar, por não termos resposta pronta. Podia começar como o próprio do John Lennon, “Imagine all the people...”

Então aqui vai, o que está errado no mundo em que vivemos? A sociedade actual promove o capitalismo, ou seja, a valorização da produtividade, a lei do consumismo. Somos actualmente valorizados pelo que somos capazes de produzir e consumir, pela nossa capacidade económica e financeira como unica régua de medição de sucesso, de progressão na sociedade ou como indivíduo. Como se isso fosse o nosso objectivo ultimo como seres humanos. Ora, se já está mais do que debatido que o dinheiro não é tudo, que o dinheiro não traz felicidade, aliás acaba por trazer à tona, muitas vezes, o pior que existe em cada um de nós (como a ganância, a discriminação, a inveja, a alteração de prioridades, a corrupção, etc), porquê insistir em salvar um sistema que está condenado à partida? Que mal faria partirmos do zero, começarmos de novo e definir, à partida, o objectivo que queremos alcançar, como indivíduos, como sociedade, como espécie, como o supremo objectivo da humanidade?
Enão vamos começar por aí. Qual pensam ser o nosso objectivo máximo, o que queremos para os nossos filhos, amigos e todos os que nos são queridos? Vamos deixar os preconceitos de lado e dizer o que nos vai no coração, este é um exercício que tem de ser feito de coração aberto, sem medos ou projecção de expectativas. O que desejaríamos, saúde, paz, dinheiro? Que sejam bem sucedidos profissionalmente, tirem um curso superior e tenham uma carreira ascendente? Que se casem, tenham filhos, sejam felizes? Se calhar é isso, que sejam felizes, parece que de uma forma geral resume tudo aquilo que pretendemos que aconteça a quem queremos bem. Mas isso é tão geral, não é? Como se pode medir isso, a fórmula da felicidade é igual para toda a gente? Claro que não. Há quem nasça para lutar, e quem viva para apaziguar, todos temos objectivos diferentes e são diferentes os impulsos que nos movem.

Podemos analisar a psique humana na tentativa de entendê-la. Podemos considerá-la como um campo de energia que possui um fluxo contínuo e inevitável de pensamentos e emoções. Porém, para atingir a felicidade teríamos de transformar esta, a maior fonte de entretenimento humano e enriquecê-la, torná-la estável e contínua. Tal como é defendido por A. Cury na obra “Análise da Inteligência de Cristo”, o enriquecimento deste fluxo vital contrasta “com a insatisfação existencial produzida pelo insucesso humano de conquistar uma fonte contínua de prazer.” Isto porque o homem pode ter tudo ao seu alcance, uma vida familiar estável, uma carreira profissional desejada, um estatuto social e económico invejável, e ser profundamente infeliz. Pois a fonte da felicidade não reside unicamente nos estímulos externos, mas sobretudo na resposta interna a esses estímulos, na evolução interna da sua personalidade, na satisfação que sente (ou não) em ser quem é. O que todos deveríamos almejar seria a capacidade de sentir prazer diante dos pequenos estímulos da vida diária, aprendermos a interiorizar-nos, enfim, conseguir viver uma vida tranquila na turbulência que é a escola da existência.

Será assim tão impossível, tão improvável, ou será que é possível conseguirmos construir uma sociedade que tenha como base de valores a felicidade humana?

3 comentários:

  1. Olá Migalha, já começo a ser um comentador assíduo do teu blog, não sei porquê mas são sempre muito interessantes.

    Este tema é muito pessoal, utopia vem do grego que significa “lugar que não existe”(wikipedia amiga) e se não existe não vale a pena seguir por aí. A mudança é muito difícil de aceitar, novas ideias são logo criticadas e abafadas sem deixar margem para discussão por aqueles que se aproveitam do estado actual das coisas.

    Esta sociedade está montada de modo a que não tenhas de pensar nem questionar anda, alguém vai fazer isso por ti, assim é mais fácil controlar. Agora, pára e pensa por ti sem ideias pré concebidas, quais são as coisas básicas para o nosso bem-estar, comida saudável, água potável e ar para respirar, estás a ver alguém a pensar nisso por ti? Cada vez mais, não sabes o que comes, a água é poluída ou sintetizada e o ar está todo poluído, será este caminho que devemos tomar? Por onde começar? Não vamos mudar o mundo, vamo-nos mudar a nós primeiro, depois os que te rodeiam só com isto já fizeste a tua parte. Este para mim é o princípio básico da felicidade, só se é feliz se gostarmos de nós, só conseguimos estar em paz se estivermos em paz connosco e isso é fácil de conseguir não é utopia nenhuma. O ser humano não é um ser mau por natureza, a sociedade é que o leva a esse estado de loucura, por isso o principal é sermos seres individuais e respeitar as diferenças dos outros.

    Como já me estou a estender demasiado, propunha que visses um documentário que para muitas pessoas só o nome é logo sinónimo de desordem e caos, é grande mas vale a pena ver até ao fim, mas que é um sistema que já demonstrou ter valor nem que seja para se equacionar o seu valor.

    http://www.youtube.com/watch?v=zIyvEQUJhHc&feature=player_embedded

    Pensamentos e ideologias não são para ser impostas, elas aparecem espontaneamente, será em 10 anos, 100 anos, 1000 anos, não sei, mas tenho a certeza de que a sociedade não vai acabar aqui, é preciso grandes crises para se seguir por outros caminhos.

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  2. Caro/a, embora concorde que a felicidade tem de começar por nós, e que não é possível espalhar algo que não é verdadeiro em nós primeiro, não consigo deixar de ver as coisas também por outro prisma... Enquanto cada um de nós se preocupar unicamente com o seu umbigo e não se dignar a olhar para o próximo com compaixão, com a compaixão que ele merece e que todos nós merecemos, dificilmente poderemos tornar este um mundo melhor. Sim, tenho a arrogância de pensar que há algo que depende de mim, e de cada um de nós em tornar este um mundo melhor. Esta diferença pode ser feita com cada gesto, em cada palavra, apesar de nem sempre ser fácil. Mas não é por isso que deixo de tentar fazer a diferença.

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  3. Migalha, concordo plenamente, mas nesta fase é que as pessoas desistem, era aqui que eu queria chegar. É humanamente impossível mudar o mundo, não temos essa força, mas podemos fazer a diferença à nossa volta com coisas simples. Aquele bom dia com um sorriso para os nossos, para o vizinho, para um colega de trabalho ou mesmo para a sra. da limpeza faz toda a diferença. Por vezes quando estamos menos contentes com a vida, um sorriso ajuda a passar o dia, uma boa conversa deixa-nos felizes e esquecemos o porque da nossa tristeza.
    A alegria é contagiosa, este é o único vírus que eu quero apanhar...

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