sábado, 2 de abril de 2011

A Pedra e a Água II

Se nos concedessem um desejo, o que pediríamos? O Euromilhões,uma casa de férias, dinheiro para dar a volta ao mundo? Sentirmo-nos-íamos desprendidos e pediríamos saúde, a paz no mundo (à laia das misses) ou o fim da pobreza? Poderíamos pedir a cura para o cancro ou para a Sida, a paz mundial ou maior distribuição da riqueza, tudo causas muito nobres, altruístas até.
Mas e a felicidade? Já ninguém pede para ser feliz? Ou será que já ninguém se lembra?
Vivemos numa época com total inversão de valores, em que o dinheiro vale mais do que tudo o resto. Fala-se em fortunas, em fama e jet-set,operações plásticas e bullying (na escola e no trabalho). Fala-se de guerras, revoluções, subornos e corrupção generalizada. Aspiramos a ser o que não somos, insistimos em ouvir mais os outros do que a nós próprios, andamos completamente perdidos.
Por isso pergunto: e a felicidade? Alguém fala? Alguém a viu por aí, a passar de boca em boca? Eu não.
Publicitam-se os melhores países para viver com base na riqueza média por habitante e não se olha à taxa de suicídios que acompanham as estatísticas. Tenho a certeza que a taxa de suicídios não será um bom indício para procurar a felicidade. O que será então? "Saúde e dinheiro", ouço em coro... Será?!
Podes não sofrer privações, até gozar de muitos luxos, ter uma saúde de ferro, e não ter em quem confiar, um confidente, alguém que te acompanhe ao longo da vida.
Faltará o Amor, já agora a amizade também. O Amor nas suas várias formas, vá. E se tivermos tudo isso, seremos obrigatoriamente felizes? A vida pode, ainda assim, não fazer sentido. Poderemos precisar de um estímulo extra, algo a que alcançar...
"Estabilidade" dizem-me, "em todos os aspectos da minha vida sempre procuro alcançar estabilidade", mas o que é a estabilidade? É ter certezas. Ter certeza de que podemos contar com o Amor do outro, com o dinheiro ao final do mês, com o emprego para a vida, as contas pagas, as apostas feitas, as cartas em cima da mesa, o jogo aberto.
Um dia depois do outro, as rotinas, saber com o que podemos contar, sem arriscar, sem dúvidas ou incertezas. Querer estabilidade assim é ser-se "pedra", é o contrário de evolução, é estar parado.
Queremos viver a nossa vida toda, um dia após o outro sem arriscar, sem espreitar o que está para lá da cortina? É abdicar do desafio, da curiosidade pela vida... Então qual a fórmula para a felicidade? Se não basta o dinheiro,a Amor, a saúde e a estabilidade, então o que falta? Digam-me...
Será mesmo que querem saber?
É que para saber o que nos faz felizes precisamos de nos conhecer bem, e isso não é nada fácil. Sim, somos todos iguais, mas também somos todos diferentes. E o que faz sentido para mim pode não fazer para ti. Como poder ler os níveis de felicidade? Como podemos lá chegar? E queremos mesmo saber? Não é mais fácil virar a página e seguir em frente?
Olhar para dentro, responsabilizarmo-nos pela vida que temos, as escolhas que fizemos, o caminho que optámos tomar, não é fácil. Mas não é definitivo. Amanhã podemos sempre decidir ser Água!

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