Quantas vezes não tomamos opções só porque nos apetece? Ou só porque achamos que não faz mal? Afinal, a vida é minha, faço o que quero, certo? - errado. A vida é nossa sim, mas não é só nossa. Toda a gente, se pensar um bocadinho, sabe disso. Tu o que fazemos, ou optamos por não fazer, influencia activamente a vida de quem nos rodeia, independentemente da vida que levamos, das pessoas com quem nos damos, com quem nos cruzamos no dia-a-dia. Por mais eremitas que tentemos ser (e hoje em dia ninguém é verdadeiramente, pois o mundo não é suficientemente grande para isso), nunca, em ocasião alguma podemos ter a ousadia, o desplante, a irresponsabilidade de reclamar a nossa vida como apenas nossa. Tal afrontamento não passa de uma ilusão.
Sabemos disso todos nós, sabe muitíssimo bem quem tem filhos.
Podem ser mínimos, ou crescidos e já terem saído de casa. Podem ser chegados ou desligados, carinhosos e meiguinhos ou em plena crise de independência e adolescência. Os filhos são filhos, são parte de nós. Quando escolhemos, seja o que fôr, é uma escolha que irá, inevitavelmente afectá-los. Mesmo que não saibam ler o que escrevemos, mesmo que não percebam o que dizemos, mesmo que não estejam presentes quando discutimos. A nossa prole é parte de nós, tudo o um dia nós fomos como crianças terá influência na infância dos filhos que iremos ter. Toda a nossa rebeldia na adolescência tomará um lugar na sua formação como pessoa. Toda a nossa consciência ou falta dela é reflectida no ser humano que sai de dentro de nós.
Eles são únicos sim, mas são parte de nós também, parte de mim e de ti. Loucos são aqueles que pensam, julgam, imaginam, que qualquer acto não terá influência neles, que isto ou aquilo poderá ser-lhes omitido. Aquilo que nos une é demasiado, os laços de sangue, de convivência, de responsabilidade foram feitos e não podem ser desfeitos. Não só porque queremos, porque só agora, durante este bocadinho, dava jeito.
Como se arca, se vive com esta responsabilidade? Se conseguires conviver contigo, consegues conviver com a influência que possas ter neles, quer queiras, quer não. Se conseguirmos viver bem connosco, com aquilo que somos, então estaremos sempre de bem com aquilo em que se irão transformar. São, verdadeiramente, o nosso legado.
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