quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O valor está na intensidade

"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis. "
Fernando Pessoa

Pegando neste comentário que aqui deixaram, e desde já agradeço a quem o fez.

É claro que, tal como o autor, toda esta afirmação é de uma poética e romantismo infindável. Porém, gostava de acrescentar algo que aqui não foi tocado.
Sem dúvida alguma que o que nos traz felicidade está longe de ser aquilo que temos ou somos capazes de comprar, embora a sociedade actual teime em insistir o contrário e somos constantemente bombardeados com esse tipo de informação que não faz sentido algum; ninguém fica realmente mais feliz por se tornar rico de repente, embora todos queiramos achar que sim.

O que nos traz a felicidade, o que ao fim do dia conta na balança quando equacionamos se somos felizes ou não, é sobretudo aquilo que sentimos. A condição económica poderá trazer, na melhor das hipóteses, contentamento, mas nunca alegria, a felicidade de sermos quem somos.
Este é um campo altamente subjectivo e do completo domínio das emoções. Podem estar duas pessoas a viver exactamente o mesmo momento e apenas uma sentir a total arrebatação e intensidade que o momento evoca. Nem sempre somos correspondidos, nem nas nossas expectativas (pois isso é óbvio), nem nos nossos sentimentos. Mas sabem que mais (?), do meu ponto de vista isso não invalida nada. Quem sentiu, sentiu. Pobre daquele que não conseguiu fazê-lo, que não conseguiu desligar-se daquilo que é, entregando-se por completo. Não é por não sermos correspondidos, uma e outra vez, que vamos deixar de investir. Não é por isso que os momentos deixaram de existir ou eclipsaram a sua intensidade. Nós estávamos lá, sentimos e isso tornou-nos mais felizes, passou a fazer parte da nossa história como pessoa. Nós continuamos cá, continuamos a levar com as ondas de frente, sem medos, mais rebolão menos rebolão, engolindo a dose que fôr necessária de água salgada, certos de que, ao final do dia, continuaremos vivos (com mais ou menos areia no fato de banho), fomos à luta. Sofremos, gozámos, entregámo-nos. Enfim, vivemos e permitimo-nos a chance de sermos felizes. Poderemos dizer o mesmo de quem opta por viver na bancada, olhando o mar de longe sem se atrever a experimentar a água que o chama? Eu vou à luta, e tu?

4 comentários:

  1. Desde já agradeço o privilégio de ter sido uma inspiração para mais um texto interessantíssimo cheio de sentimento e sinceridade.

    Este blog é um blog de reflexões pessoais, mas não gostaria de deixar passar a oportunidade de deixar aqui um comentário, quem sabe se não será fonte de inspiração para mais um post.

    A vida é uma sequência de acontecimentos que, de uma forma ou de outra, bem ou mal, nos trouxe até ao que somos hoje, são essas coisas que nos permitem observar o mundo com maior clareza. A felicidade não é mais nem menos que conseguir olhar para o nosso percurso e constatar que tudo o que fizemos foram experiências que só nos enriqueceram humanamente e nos permitem perceber quais são as coisas verdadeiramente importantes. Será o dinheiro? Será um trabalho? Será um carro caro? Será uma casa grande? Ou será a paz de espírito e as pequenas coisas que nos rodeiam que deixámos de ver e passam ao nosso lado quando andamos ocupados atrás de uma coisa que a sociedade chama de “felicidade”.
    Não há coisa mais bonita do que lançar uma semente na terra e vê-la crescer quer seja na terra, na amizade ou no amor.
    Para acabar e respondendo à pergunta final com uma frase dos Homens da luta, que está muito actual e reflete bem o sentido que, no meu entender, a nossa vida deve ter, “A luta é alegria”, até a luta pode ser alegria.

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  2. A propósito de ser feliz, deixo aqui também umas palavras, na minha opinião, muito sábias. O texto é atríbuido a Fernando Pessoa mas parece que afinal não é dele... Nâo deixa de ser bonito e, para mim, muito verdadeiro:

    Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
    Mas não esqueço de que minha vida
    É a maior empresa do mundo…
    E que posso evitar que ela vá à falência.
    Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
    Apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
    Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
    Se tornar um autor da própria história…
    É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
    Um oásis no recôndito da sua alma…
    É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
    Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
    É saber falar de si mesmo.
    É ter coragem para ouvir um “Não”!!!
    É ter segurança para receber uma crítica,
    Mesmo que injusta…

    Pedras no caminho?
    Guardo todas, um dia vou construir um castelo…

    Costumo dizer isso muitas vezes: ser feliz é uma escolha que se faz (todos os dias).

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  3. Caro/a anónimo/a, Muito obrigada pelas contribuições, concordo inteiramente e os seus comentários são sempre bem vindos. Realmente sem um bocadinho de luta, sem uma certa dose de desafio diário, a vida não tem o mesmo sabor!

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  4. Margarida, Fantástico poema, fácil de interiorizar, por vezes mais difícil de executar. Pois enquanto não se constrói o castelo, as pedras podem pesar nos bolsos... Muito obrigada.

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