terça-feira, 9 de agosto de 2011

A crise, outra vez a crise.

Acho engraçado quando se diz que a crise que afectou Portugal, a Irlanda e a Grécia se pode espalhar a outros países como a Espanha ou a Itália, como se fosse não mais do que uma gripe que pode ser contagiosa a quem estiver mais perto.
Também não entendo a forma como esta Europa foi formada, começando pelo fim. Ou seja, dando primeiro uma uniformização de moeda única a quem não tem mais nada em comum - nem política fiscal, nem económica, nada. Aquilo que deveria ser uma consolidação de uniformização, de políticas, economia, direitos e governação, foi implementado antes de qualquer medida ter sido tomada neste sentido. Sem uma política global comum, sem nada, deram-nos uma moeda única e ficámos todos contentes, porque isso tornáva-nos mais fortes sem que que perdêssemos a individualidade de cada país, mesmo sem fronteiras, mantínhamos a sensação de patriotismo. Os ventos estavam de feição e as coisas não correram mal durante os primeiros tempos. Mas não sendo uma medida estruturada e apoiada por uma série de outras, mais cedo ou mais tarde estava condenado a sofrer os seus revés.

Quanto a esta suposta crise económica, parece que estamos todos cegos ou não nos querem deixar ver... Ora acompanhem-me lá neste raciocínio: o problema estrutural dos países em crise é o gastarem mais do que aquilo que produzem, e isso acontece porque há uma corrupção instalada, uma falta de ética estrutural a nível de quem governa. Esta falta de ética até pode ser apenas moderada, mas coloca os interesses pessoais acima dos interesses globais, tira isenção às decisões tomadas, reflete-se em dinheiros mal gastos, que se repercute em subidas de impostos pelos excessos cometidos, aumento de uma dívida que ninguém quer saber quem vai pagar, porque quando fôr altura de isso acontecer já nem sequer vão estar no poder.

Como é que se pode considerar que isto pode ser contagioso? Será uma guerra de vizinhos, se tu tens XPTO eu quero um XPTO+Y? E assim andamos numa escalada infantil de: "a minha dívida é maior do que a tua". Não será mesmo uma falta de ética na política em geral que nos trouxe ao que estamos hoje? Será que é mesmo no contrair mais dívida para se pagar a dívida antiga (ou apenas os juros) que está a solução? Pois estas são as únicas medidas que temos visto...

Será que é esta falta de ética intrínseca que é considerada como uma gripe que se pega? Ou será que é todo o sistema que está a precisar de uma reforma? Não só o sistema económico, pois isso é flagrante, mas a própria Europa e os regimes actuais, a tão defendida democracia, será mesmo o melhor que conseguimos fazer? Se por um lado limitamos o poder pelas eleições regulares, por outro desresponsabilizamos quem fica no poder por saber que esse poder é limitado. Isto está mais do que comprovado pela história recente, está longe de ser um sistema justo, apetecível.

E o que se faz perante este cenário de desgraça global? Nada, ou, de preferência, muito pouco. Soluções remediadas em vez de medidas activas, pois quem está no poder não quer arriscar o pescoço e quem não está sente-se muito à vontade para dar bitaites sem qualquer carácter construtivo. Tudo está estruturalmente desequilibrado. Se, para avançar com uma solução, uma decisão, é preciso que não sei quantos partidos políticos com agendas muito próprias e um eleitorado para agradar as aprove, ou pior ainda, se peça a opinião de toda uma população que não tem a capacidade ou informação necessária para analisar e decidir, então dificilmente avançaremos. As decisões têm de ser tomadas por quem sabe, a quem tenha sido decretada uma idoneidade e capacidade de visão indiscutíveis. Uma ou várias (poucas) pessoas com estas características que possam - não levar o país para a frente como tão comummente se diz - mas mudar tudo o que está intrinsecamente mal na sociedade que hoje vivemos.

Mudar estruturalmente a União Europeia, torná-la mais forte através de alinhamentos políticos, económicos, mas também humanitários. Uniformizando leis e medidas, centralizando as decisões, estabelecendo governos autónomos, porque somos países diferentes, com identidades diferentes, mas podemos estar todos unidos em prol de um bem comum. Não apenas uma moeda comum, mas com objectivos comuns, redesenhando o planeta, respeitando culturas, ajudando quem precisa, diminuindo a base do triângulo. Vamos acreditar que este é o futuro e permitir que assim aconteça.

2 comentários:

  1. Pois é... mas ainda há muitos castelos por ruir!
    O próximo será certamente os EUA que conseguiram vender papel (dolar) a preço de petróleo (não ouro, porque é a única moeda mundial que não tem essa correspondência)
    Bjs
    Paulo

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