terça-feira, 5 de abril de 2011

A Mentira do Povo

Muitas vezes me pergunto como é possível termos chegado a este ponto, estarmos como estamos.
Afinal, supostamente, a democracia deveria ser isenta, sendo todo um povo a escolher o seu destino. É claro que está longe de ser um sistema perfeito (mesmo!), mas é o que temos por agora. Daqueles que já foram experimentados, parece que é o menos mau. Espero que em breve se crie um novo ou se remodele profundamente este modelo que acaba por ser tão injusto.
No fundo o sistema é tão injusto quanto os homens são injustos, pois são eles que formam o sistema.
Mas será que os fundadores da democracia alguma vez previram uma situação como aquela em que vivemos agora? Em que apenas são eleitos políticos corruptos e quão mais profundamente maus são, mais vezes são reeleitos?
O que vai na cabeça dos votantes? Vento?!
Esta é uma questão que me tem atormentado e para a qual, finalmente, encontrei uma resposta para este comportamento colectivo.
As mentes são pequenas - pequeninas até - porque, como sabemos, utilizamos apenas uma ínfima parte do cérebro e parece que nem sempre escolhemos a mais correcta.
Existe muita gente recta, séria, com profundo sentido ético que aplica ao máximo em todas as áreas da sua vida. Mas não me parece que seja o caso da maioria da população. Parece-me que a maioria de nós tem dificuldade em ver para além do seu mundo, para o bem e para o mal. Ou seja, aqueles que são intrinsecamente bons têm dificuldade em aceitar que os outros possam não o ser. Os altruístas não esperam nada em troca, pois faz parte da sua natureza. Os pacientes esperam também paciência dos outros, os generosos vêm generosidade mesmo onde pode não existir, e por aí adiante.
Ora, se isto é válido para as qualidades, também o é para os defeitos. Tal como os "bons" partem do princípio que os outros também o sejam (ainda que apenas no seu íntimo), os "maus" comportam-se da mesma forma.
Aliás, olham para o próximo e observam: os mentirosos, "até parece que nunca mentiste"; os orgulhosos partem do princípio que todos querem ser como eles; os larápios "queres ver que nunca roubaste... até parece que pagas os impostos todos...". Assim, enquanto os "bons" vêm um fundo de bondade em tudo o que os rodeia, os "maus" acham que nada nem ninguém pode ser melhor do que eles.
Agora poderíamos/deveríamos fazer a pergunta: "e eu? Sou bom ou mau?"
A resposta é clara, quando vemos o que de melhor tem o outro, somos inequivocamente "bons". Sempre que rebaixamos e criticamos o próximo não o considerando ser mais digno de atenção do que uma ervilha, então somos "maus". Tudo depende onde colocamos a bitola.
Então cheguei a esta triste mas (penso que) plausível conclusão: sempre que o povo português vota num corrupto -declarado- é porque ele próprio se considera como tal, logo vê nesse um acto perfeitamente desculpável e corriqueiro. 
É claro que quando votamos - e porque temos de votar uma vez que é essa a voz que devemos ter como cidadãos - podemos nem sempre conhecer bem o candidato, e há gente que consegue enganar/iludir muitas outras. Mas estou a falar dos casos declarados-aqueles que estão a ser julgados por crimes cometidos em funções, que os eleitores sabem com o que é que contam e mesmo assim votam neles. (Podem - há vontade - fazer-me uma lista dos benefícios que o Isaltino trouxe à Camâra Municipal de Oeiras, obviamente que todos temos qualidades como defeitos. Estou a falar em termos de experiência social, os resultados que ele conseguiu obter.)
E agora temos o nosso (ex) Primeiro Ministro demissionário. Com todos os defeitos e qualidades que se podem atribuir ao homem, há uma característica da qual ninguém duvida: é Mentiroso! É um mentiroso comprovado, facto após facto ao longo dos anos culminando nos últimos acontecimentos com visibilidade internacional. O homem mente com quantos dentes tem e também com os que lhe possam faltar, opiniões políticas à parte, este facto é sabido por todos.

Pois é mentiroso e cerca de 30% (no mínimo) da população vai votar nele. O que é que isto sobre nós?! Que toda a gente, provavelmente sem se aperceber conscientemente do seu gesto, vai dizer que é mentiroso também. "Mas não faz mal", desvalorizando o gesto, "se o primeiro ministro também o é", é porque tal é, concerteza, permitido.
Eis o que nos espera, com um simples gesto, mostramos a quem quiser ver que, para além de sermos um país que não se sabe governar, somos sobretudo, um país de mentirosos.

2 comentários:

  1. Epsantoso!
    Este artigo toca no ponto certo.
    Merece ser reenviado e lido por muitos (mentirosos ou não)

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  2. Obrigada. Estejam à vontade para divulgar. A ideia é passar a mensagem, pôr-nos a todos a pensar.

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