Fala-se tanto sobre o que está mal, o que deveria ser mudado, que gostaria de colocar aqui aquilo que penso que poderia ser diferente. Utopia ou não, pois tudo foi utópico em tempos, até alguém agarrar nessas ideias e conseguir levá-las à práctica. Todos os grandes feitos foram primeiro considerados impossíveis, irrealizáveis, disparatados e absurdos até. Ninguém nos impede de pensar, sonhar. Ninguém nos impede de partilhar essa cadeia de pensamentos. A voçês, nada vos impede de comentar.
Falo várias vezes no descontentamento imenso que sinto com a sociedade actual, com o regime de valores actualmente implementado, comento a minha profunda desilusão com a democracia e o capitalismo em que hoje vivemos.
Pois agora proponho algo diferente, proponho uma sociedade que assente em algo que não estamos habituados a falar, algo em que preferimos nem sequer pensar, por não termos resposta pronta. Podia começar como o próprio do John Lennon, “Imagine all the people...”
Então aqui vai, o que está errado no mundo em que vivemos? A sociedade actual promove o capitalismo, ou seja, a valorização da produtividade, a lei do consumismo. Somos actualmente valorizados pelo que somos capazes de produzir e consumir, pela nossa capacidade económica e financeira como unica régua de medição de sucesso, de progressão na sociedade ou como indivíduo. Como se isso fosse o nosso objectivo ultimo como seres humanos. Ora, se já está mais do que debatido que o dinheiro não é tudo, que o dinheiro não traz felicidade, aliás acaba por trazer à tona, muitas vezes, o pior que existe em cada um de nós (como a ganância, a discriminação, a inveja, a alteração de prioridades, a corrupção, etc), porquê insistir em salvar um sistema que está condenado à partida? Que mal faria partirmos do zero, começarmos de novo e definir, à partida, o objectivo que queremos alcançar, como indivíduos, como sociedade, como espécie, como o supremo objectivo da humanidade?
Enão vamos começar por aí. Qual pensam ser o nosso objectivo máximo, o que queremos para os nossos filhos, amigos e todos os que nos são queridos? Vamos deixar os preconceitos de lado e dizer o que nos vai no coração, este é um exercício que tem de ser feito de coração aberto, sem medos ou projecção de expectativas. O que desejaríamos, saúde, paz, dinheiro? Que sejam bem sucedidos profissionalmente, tirem um curso superior e tenham uma carreira ascendente? Que se casem, tenham filhos, sejam felizes? Se calhar é isso, que sejam felizes, parece que de uma forma geral resume tudo aquilo que pretendemos que aconteça a quem queremos bem. Mas isso é tão geral, não é? Como se pode medir isso, a fórmula da felicidade é igual para toda a gente? Claro que não. Há quem nasça para lutar, e quem viva para apaziguar, todos temos objectivos diferentes e são diferentes os impulsos que nos movem.
Podemos analisar a psique humana na tentativa de entendê-la. Podemos considerá-la como um campo de energia que possui um fluxo contínuo e inevitável de pensamentos e emoções. Porém, para atingir a felicidade teríamos de transformar esta, a maior fonte de entretenimento humano e enriquecê-la, torná-la estável e contínua. Tal como é defendido por A. Cury na obra “Análise da Inteligência de Cristo”, o enriquecimento deste fluxo vital contrasta “com a insatisfação existencial produzida pelo insucesso humano de conquistar uma fonte contínua de prazer.” Isto porque o homem pode ter tudo ao seu alcance, uma vida familiar estável, uma carreira profissional desejada, um estatuto social e económico invejável, e ser profundamente infeliz. Pois a fonte da felicidade não reside unicamente nos estímulos externos, mas sobretudo na resposta interna a esses estímulos, na evolução interna da sua personalidade, na satisfação que sente (ou não) em ser quem é. O que todos deveríamos almejar seria a capacidade de sentir prazer diante dos pequenos estímulos da vida diária, aprendermos a interiorizar-nos, enfim, conseguir viver uma vida tranquila na turbulência que é a escola da existência.
Será assim tão impossível, tão improvável, ou será que é possível conseguirmos construir uma sociedade que tenha como base de valores a felicidade humana?