quarta-feira, 25 de maio de 2011

Todos em Um

A vida é assim, díspar. Quando queremos muito uma coisa e conseguimos enviar a mensagem correcta para o universo, existe uma larga possibilidade de que ela nos venha a ser concedida.

Podemos pedir muito uma criança, e quando ela vem apercebemo-nos de que não pedimos que viesse com saúde. Podemos pedir algo extraordinário e não ter capacidade de lidar com o que pedimos. Podemos pedir estabilidade e quando nos é concedida realizamos que é o risco e o desafio que nos faz feliz. Que os valores dos outros não são necessáriamente os nossos. Que aquilo que faz feliz o nosso irmão não nos faz a nós. Que não somos nem mais nem menos nada por isso.

É mais fácil analisar à distância, olhar para os outros e perceber o que os incomoda, o que os faz felizes, do que olhar para dentro e compreender o mesmo. Se assim não fosse, como seria possível interpretar o facto de não fazermos permanentemente o que de melhor seria para nós? Como podemos justificar o colocar-nos em situações que não nos são favoráveis, nem para aprender nem para usufruir? Como podemos justificar as opções erradas, as escolhas adiadas, as fotografias por tirar, as recordações esquecidas?

Mais do que aprender a viver com os outros, temos de aprender a viver connosco. A paisagem que nos rodeia é sempre passível de ser mudada, os intervenientes também, mas nós somos sempre nós, e connosco temos de aprender a viver.
Temos de aprender a viver como nosso corpo, com as suas limitações e necessidades, tirando o melhor partido que podemos da enorme complexidade de orgãos, tendões e músculos que nos compõe. Aprendendo a ouvi-lo e dar-lhe o que ele precisa para nos retribuir com o maior rendimento e bem-estar possível.
Temos de aprender a viver com as nossas emoções, aceitá-las todas, pois só na sua equidade poderemos manter o equilíbrio. Não podemos só rir, temos também de nos entregar ao choro quando dele dependemos para descarregar algo muito forte.
Temos de aprender a estimular a mente e dar-lhe o que ela precisa para nos continuar a ajudar. Não fomos feitos para estudar durante 12 ou 16 anos e depois deixá-la adormecer. Esses anos iniciais deveriam ser só o exercício necessário para pô-la em forma, de maneira a que nos seja util o resto da vida. Se não a estimularmos com regularidade corremos o risco de nos acharmos velhos e sem capacidade de aprender. Mas a capacidade de aprender não se restringe, de todo, à juventude. Aliás, para quem saiba usá-la, a mente traz a sabedoria aos mais velhos, aquela que não depende só da idade mas do uso que se dá ao tempo que temos.
Temos de aprender a comunicar com o espírito, pois embora ele não se esqueça de nós, temos muita tendência a esquecermo-nos dele. A comunicação tem de ser treinada regularmente, tal qual o exercício físico, sob pena de não nos dar  rendimento necessário, neste caso, a orientação de que precisamos para prosseguir.

E temos, sobretudo, de interiorizar que não somos só mente, não somos só físico, assim como também não somos só espírito. Apenas conjugando cuidadosa e harmoniosamente todas as partes do nosso ser teremos hipótese de concretizar o objectivo que aqui nos trouxe.

Eu quero ser feliz, e tu?

A verdade ou a disparidade?

Não se pode agradar a todos, é sabido, até porque tudo nesta vida tem várias interpretações, pelo menos uma por pessoa. Aquela história de que a verdade é só uma, já foi. Parece-me mais do que evidente de que verdades existem muitas, a minha, a tua, a dele... nenhuma mais verdadeira ou mais importante do que outra.

No entanto, continuamos a tentar conjugar todas as realidades, permanentemente. Quem é que tem razão, de que forma as coisas devem ser feitas em cada momento, tentar ficar o mais isentos possível de qualquer interpretação dúbia. A informação, que deve ser transmitida de forma clara, pode ter sempre mensagens subliminares, se não por quem emite a informação, então por quem a recebe, que poderá fazer o mesmo trabalho.

Tal é patente na análise das obras de arte, estejamos a falar de pinturas, esculturas ou mesmo poemas. O artista pintou assim porque queria dizer isto e aquilo, escreveu este poema mas queria transmitir esta ou outra ideia da qual não se encontra qualquer registo. Será que os artistas, quando criaram as suas obras estavam mesmo a pensar em 2, 3 ou 4 ideias diferentes a transmitir de forma indirecta? Ou será que simplesmente deram forma àquilo que lhes ocupava o espírito, tentando livrar-se de algo incómodo e inconsciente com o único objectivo de sentirem-se mais leves?

Assim somos nós no nosso dia a dia, pensamos mais ou menos naquilo que dizemos, na forma como fazemos, na importância que damos a isto ou aquilo. Mas por mais cuidados que tenhamos, somos sempre, mas sempre, passíveis de ser mal interpretados. Há-de sempre haver alguém, mais próximo ou mais afastado, que nos olha nos olhos e vê algo completamente distinto daquilo que realmente somos. Será culpa nossa, será dos outros, esta disparidade de ideias? Qualquer resposta a esta questão parece-me absolutamente irrelevante.

Absolutamente essencial é estarmos a par de como as coisas funcionam, que todos somos diferentes, por mais que nos tentemos aproximar nunca seremos iguais. Cada um com o seu propósito, cada um com o seu objectivo, cada um com o seu par de olhos e lentes muito próprio.

Sintam-se insultados ou elogiados pela minha presença, pois nada poderá travar a corrente do que sou.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Cego é quem não quer ver

Estou cansada, permanentemente cansada. Quanto mais coisas tenho em que pensar, quanto maior a gravidade dos assuntos em mãos, mais arranjo com que ocupar as mãos. Trabalho, limpo, cozinho, arrumo, faço e desfaço até à exaustão, na esperança de que, perante o meu cansaço, os problemas tenham dó de mim e queiram resolver-se sozinhos.

Por mais ou menos racional que seja uma atitude destas, confesso que não é mais do que um impulso, algo difícil de controlar. Na ausência de controle daquilo que realmente interessa, dos assuntos que nos governam a vida, há sempre a tentativa de controlar, nem que sejam as coisas pequeninas. No entanto estou cansada, muito cansada, e tudo continua por resolver.

Há que entregar aquilo que é mais importante, a quem pode, deve e sabe decidir por nós. Mas será que Deus fará todo o trabalho por nós se não dermos uma ajudinha?

Será que basta ter a sensatez e humildade de entregar a nossa vida, e encarar tudo com passividade? Então e a luta, a conquista? Será que todos os grandes momentos são feitos puramente de acasos divinos? Qual o nosso papel no meio de tudo isto? Será que todos os grandes Homens esperaram quietos e sentados aguardando o momento em que seriam chamados?

Quero participar e não tenho coragem, quero agir e vejo-me parada, quero tomar a iniciativa mas falta-me a pertinência.

Dá-me a tua luz, Senhor e ensina-me a ver.

A encruzilhada

Cheguei a uma encruzilhada. Montei o cenário todo e agora não sei o que faça com ele. Tudo está no seu lugar, tudo está preparado para o que vai acontecer, mas e agora? Estamos nos momentos que antecedem um desfecho grandioso, mas ninguém (eu, pelo menos) sabe qual o próximo passo a dar.
Dum lado temos o cenário da crise política, com os maiores corruptos a darem a cara, descaradamente temos tudo o que é mau e negativo a vir ao de cima.
Vemos/sentimos o crescendo da musica depois de todos os instrumentos já estarem em cena, o ritmo evolui, mas ninguém sabe para onde vai nem como acabará. Devemos ficar sentados na plateia, certos e seguros de que a história terá um final feliz - só pode, já que somos nós a vivê-la... Ou devemos antes entrar em cena, participar com um fundo de ritmar de palmas, dando força sem nos intrometermos demasiado?
O que faço agora com o que tenho nas mãos?

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A desilusão

A desilusão é uma consequência quase inevitável da expectativa.
Hoje em dia temos expectativas sobre tudo e todos, no emprego e em casa, acerca de pensamentos e atitudes, sobretudo dos outros.
Como se gere expectativas? Como nos protegemos da desilusão? Da mesma forma que poderíamos nos proteger da tristeza. Se não sentirmos, não entristecemos, mas também não sentimos as alegrias da vida. Esta é a dualidade da vida:
Alegria - Tristeza
Expectativa - Desilusão
Viver/Sentir - Morrer

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Um lugar diferente

Hoje em dia, para nos enquadrarmos nalgum lugar, nalgum ambiente, nalgum grupo, teremos de assumir um papel, papel esse que já existe antes de nós entrarmos em cena.
Ou seja, para um perfeito enquadramento ninguém espera que sejamos nós próprios. Aliás, ninguém quer que nós sejamos fiéis a quem somos, apenas fiéis a um papel, a um guião que já foi criado. Alguém desenhado para cumprir certos propósitos, e ninguém quer saber se esses propósitos são os nossos também.
Ao assumirmos um papel que não foi feito à nossa medida, automaticamente estamos a tentar encaixarmo-nos onde não pertencemos. Ao assumirmos esse papel estamos a aceitar que nos seja colocado um rótulo. Rótulo esse que, por o termos aceite, iremos tentar agir de acordo com aquilo que achamos que é esperado de nós. Em todo este processo, quem realmente somos não interessa para nada, ficou esquecido...
Se nós esquecemos quem somos, é garantido que ninguém nos vai lembrar... E agora pensamos, mas então, se há papeis já criados em todas as situações, teremos forçosamente de nos enquadrar neles se quisermos ser felizes, se quisermos fazer parte desta sociedade, se nos queremos enquadrar neste mundo.
Pois, mas não:
a) Para ser feliz é preciso uma série de situações estarem alinhadas e que poderão ser distintas para cada pessoa. No entanto, no caminho para a verdadeira felicidade, o enquadramo-nos num papel não tem qualquer relevância. O aceitarmo-nos a nós próprios tem.
b) Podemos querer muito fazer parte desta sociedade, mas será que concordamos plenamente com a forma de funcionamento da mesma, ou teremos algo a dizer sobre o assunto?
c) "Enquadrar neste mundo" é passível de várias interpretações, mas a mais imediata será a de "cabermos dentro de um quadrado", ou seja, sermos feitos à medida para um lugar pré-existente. Neste momento existem tantos lugares como pessoas, pois existe um lugar para cada um de nós. Poderá, eventualmente, não ser aquele que sempre pensámos ou idealizámos, poderá até ser um lugar não muito confortável, mas garantidamente existe.
Existem os lugares porque o mundo permitiu que nós existíssemos e só o poderia fazer guardando um lugar especificamente para nós.
Será esse um lugar tradicional, dentro da dinâmica convencional e existente na sociedade hoje? Não.
Será um lugar para quem realmente somos, na essência. Não um lugar para a pessoa em que nos transformamos para tentarmos ser aceites cumprindo certos requisitos.
Somos quem somos e não quem querem que sejamos.
Aceitemos.
Sejamos fiéis a nós próprios, com orgulho e sem preconceito!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A Frontalidade

Questionamos tudo e todos, com mais facilidade os outros do que a nós. Questionamos o mundo, a justiça, a falta de frontalidade por sentirmos ter sido brevemente iluminados por ela.
A frontalidade, apesar de pouca e dispersa, é muitas vezes recebida com indignação, mas também como um ar fresco que nos desanuvia, sacudindo pontos de vista como uma rajada de vento sacode os cabelos.
Falo aqui da frontalidade pragmática e objectiva, não apenas de confronto puro, tão diferente na sua génese que poderá até ser o oposto da frontalidade, em várias das suas formas.
É sabido que as pessoas não dizem o que pensam, que é tudo cheio de esquemas, diplomacias e politiquices, que nada é dito de frente, cru e duro como deve ser a verdade.
Por vezes penso que as verdades não são ditas porque as pessoas muito simplesmente não pensam.
É muito mais fácil reagir do que agir, protestar do que construir, omitir que revelar... Dá muito mais trabalho. E Deus nos livre e guarde de termos de usar um órgão tão complexo como o cérebro, na busca de algo tão simples como a verdade, afinal, seria um "verdadeiro" desperdício!
Ou seja, para sermos frontais, pragmáticos, verdadeiros, temos de saber ouvir e analisar com isenção, encarar os factos como eles são.
Os discursos que ouvimos, quer no dia-a-dia, quer na boca de grandes dirigentes políticos e afins, por norma não são mais do que palavras completamente desprovidas de conteúdo.
Não é por conseguir argumentar de forma consistente e durante horas a fio sobre quais as razões que tinha para não subir à árvore, que vai alterar o facto de tal ter acontecido e estar, neste momento, a olhar para mim de soslaio, com o seu característico ar de desinteressado.
As coisas são o que são, deixemos de discuti-las, aceitemo-las. A verdade é que não temos outro remédio.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A Fé

Muito pouco se fala sobre a Fé hoje em dia. A culpa também é minha, é algo que tenho por garantido e portanto, sobre a qual nunca senti necessidade de me expressar.
A verdade é esta, a Fé, ingrediente absolutamente essencial para atingir a felicidade, como qualquer outro, ou se nasce com ele, ou apenas arduamente se conseguirá alcancá-lo.
Este é um dom com o qual tive a imensa graça de nascer. Mas Deus não quis que ficasse com menos experiência e compreensão da comum condição humana, e por isso trouxe-me a dúvida.
Desde sempre que a Fé faz parte de mim, em todos os momentos da minha vida me senti ternamente acompanhada. A minha voz interior nunca me deixou mal, embora muitas vezes, teimosamente, insistisse em não seguir os seus conselhos.
Agradeço profundamente por este dom que me foi dado, e faço-o porque também eu duvidei. Por muitos momentos, por difíceis que fossem, nunca me senti vacilar, Deus sempre me acompanhou, carinhosamente, desde os primeiros momentos. Por vezes senti vontade de abandonar este mundo, mas sempre porque sabia o que me esperava no Outro, e sabia e sei que esta não é uma decisão minha para tomar.
No entanto, também houve a altura em que me perdi completamente, o desgosto foi tal que me desorientei ao ponto de não saber quem sou. E nesse momento, Deus presenteou-me com o dom da dúvida. Pela primeira vez na minha vida deixei de sentir conforto, procurei pela Sua companhia e não a encontrei.
Mas tal como vem nas escrituras, Jesus não me abandonou, apenas eu não O conseguia ver. Agora que me reencontrei, reencontrei-O também.
Agradeço por esta experiência, pois ajudou-me a dar um imenso valor ao Dom da Fé.
A quem não nasceu com este dom, posso dizer, por experiência própria, Deus nunca nos abandona, mas por vezes gosta de jogar às escondidas.

Um mundo sem sentido.

Às vezes fazia falta que o mundo fizesse sentido. É especialmente quando sentimos uma grande injustiça na pele que temos tendência para nos revoltar.
Revoltamo-nos contra o estabelecido, contra a ordem natural das coisas, contra nós próprios e as atitudes tomadas.
É neste sentimento de revolta que nos dignamos a julgar, analisar, quem sabe até crescer.

Vale a pena correr o risco

Dá-se muita atenção aos sintomas, àquilo que somos obrigados a ver, mas com um pouco de maquilhagem, a dose certa de base e pó de arroz e disfarçam-se as borbulhas...
Agora questiono, e isso resolverá a causa dos sintomas? Será garante suficiente de que tal não voltará a acontecer? Dificilmente as borbulhas irão desaparecer com a maquilhagem, pode-se até não reparar nelas por momentos, mas provavelmente piorarão enquanto não se tratar convenientemente da infecção.
Da mesma forma, embora muito popular, é garantido que não há operação plástica que cure um verdadeiro caso de falta de auto-estima, o desconforto sentido por vivermos na pele que escolhemos (ou não).
E sendo a depressão a doença mais disseminada e divulgada da actualidade, pouca atenção se dispensa com as causas, embora cause muita preocupação os casos chamados depressivos, por ser bestialmente desconfortável conviver com elas.
No entanto, em nenhum destes casos, assim como em muitos outros, se fala e discute com a mesma intensidade, vontade e sabedoria sobre a causa de todos estes sintomas. Isso seria ir ao fundo dos problemas. Nós, o Ocidente, temos por costume esconder aquilo que incomoda, disfarçar o que traz desconforto, camuflar o embaraçoso. Não somos conhecidos por ir à raiz das questões. Será esse o nosso problema. Será isto que temos de mudar? A nossa inevitável necessidade para o imediatismo, tudo o que seja de consumo imediato, agradável à vista, sem complicações. Ora, com tanta vontade de ter um mundo perfeito sem ter de pensar muito no assunto, deu nisto.
Qual será a real causa de tantas depressões? Será mesmo a crise, aquela provocada pela falta de valores éticos e constante aposta em sistemas comprovadamente errados, por serem a solução mais fácil?
Ou será, isso sim, a falta de importância que damos ao Ser humano como um todo? Porque o ser humano, como todos sabemos, é uma história por si só, cada um de nós. Temos inúmeras características que nos distingue dos nossos pares, características ambientais, emocionais, genéticas, psicológicas, físicas e espirituais. Mas era muito mais fácil se nos enquadrássemos dentro de certos grupos. E assim criamos rótulos, tratamos toda a gente que se inclui naquele rótulo da mesma forma, esperando que a cura de um seja a cura de todos, as mesmas doses para os mesmos problemas. Mas são pessoas diferentes, esquecem-se disso.
Quantos casos, por desconhecimento ou indiferença, são mal diagnosticados, mal encaminhados, mal tratados?
Onde está a centelha divina do Ser humano, aquela que nos torna seres únicos, impossíveis de copiar?
Vamos dar atenção a cada um de nós, aprender a conhecer-nos e aceitarmos aquilo que realmente somos e não aquilo que os outros querem que sejamos.
Façamos um esforço, por nós, pelo outro, de aceitar a sua individualidade, respeitá-la e inaltecê-la.
Vamos correr um risco: o de sermos nós próprios.